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Opinião de Leitura
«O Preço de um Sonho» «O Preço de um Sonho»

Autor: Guimarães, Luís

Leitor: Luis Guimaraes

Opinião

             editor, aceita-se!

INTRODUÇÃO

«Sofia é o meu nome e talvez o leitor se recorde de mim quando, há uns anos, entrava todas as noites em sua casa, através do ecrã de televisão, no pro-grama/concurso Big Brother.
Talvez você fosse telespectador assíduo, quiçá um fã dedicado, que seguia o meu dia-a-dia com atenção e carinho, como se de algum modo eu pertences-se também ao vosso núcleo familiar. Nesse caso, obrigado desde já por todo o apoio, carinho e amor com que me recebeu, sem eu ter feito nada que o mere-cesse.
É especialmente para si que escrevo estas páginas, para que me entenda e fique a conhecer um pouco mais a verdadeira Sofia Guerra. Porque nem os espectadores mais fiéis se aperceberam do que realmente se passava comigo. Fui incompreendida e, principalmente, incapaz de fazer compreender a razão da minha aparente apatia, da tristeza que era patente, do meu silêncio sofrido.
É minha pretensão, neste livro, tocar o vosso coração ao colocar-vos a par de um problema que infelizmente começa a ser frequente no nosso país. Vou falar-lhes de uma marcante experiência que teve lugar na minha vida, assim como está a ocorrer neste preciso momento com centenas de muitas outras.
Vou-lhes falar de anorexia e bulimia Estas doenças são comuns em todo o mundo, sobretudo em países desenvolvidos onde determinados padrões de beleza estão instalados e ganham cada vez mais adeptos, alargando assim um já vasto número de vítimas.
Estas são caracterizadas principalmente por uma significativa perda de peso, originada pela busca insaciável da perfeição, do bem-estar e da aceitação do próprio corpo. Embora para muitos estas doenças não sejam consideradas como tal, é de facto uma das maiores causas de internamento em hospitais de jovens do sexo feminino, mas também do sexo masculino, embora em menor número.
Há quem seja da opinião de que a moda, a publicidade e os protótipos de beleza na sociedade actual em que vivemos podem ser acusados de potenciais causadoras destes distúrbios. Outros defendem que tudo não passa de uma mania, não de uma doença. Recusam aceitá-la com tal, por não saberem solu-cionar as suas causas nem as demais repercussões que a acompanham.
É sem dúvida mais fácil ignorar um problema do que aceitar a incapacidade humana para o resolver. Não saber não é pecado, pecado é continuar a ig-norar algo que já não é possível ignorar! Deste modo, quero dar-lhes a conhe-cer um pouco mais sobre estas doenças do comportamento alimentar, mere-cedoras de especial e cuidada atenção.
Alertá-los para as suas causas, dando-lhes a conhecer os seus sintomas, de forma a que sejam mais facilmente detectados quaisquer indícios que condu-zam a estes problemas do foro psicológico, a fim de os evitar e combater com sabedoria, preparação e conhecimento.
É com o propósito de ajudar a resolver e compreender melhor todo este processo que, de acordo com a experiência de diversos especialistas, resolvi escrever este livro.
Vou falar-lhes de uma marcante experiência que teve lugar na minha vida, assim como está a ocorrer neste preciso momento em centenas de muitas ou-tras. Refiro-me a um problema cujo menor indício é o silêncio – e o último pode ser a morte!...»

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ÍNDICE

A todas as mães...
A menina que queria ser manequim
Quando o sonho introduz o pesadelo
Beleza - conceito ou imposição?
O preço da obstinação
Miss Odivelas, enfim...
O corpo cobra uma pesada factura
Dar a volta por cima
A vida num momento
Anorexia e bulimia, na primeira pessoa
Coragem para pedir aconselhamento médico
Tratamentos médicos alternativos
Saúde e silhueta: juntar o útil ao agradável
A saúde pela boca adentro

Excerto

«Eu não cheguei a pertencer ao já vasto número de jovens anorécti-cas/bulímicas mas certamente que estive à beira do abismo. A falta de amor-próprio, de auto-estima, e a falta de confiança em mim própria tinham-me feito ultrapassar os limites da razão, levando-me a entrar em guerra com o mundo e comigo própria.
Quando se tem 16 anos é tão fácil acreditar em pleno, sem reservas, no que nos dizem... Não acreditamos que nos queiram fazer mal mas somos alvos tão fáceis!... Ainda mais quando se é uma jovem insegura, frágil, tímida e – hoje consigo dizê-lo – bonita.
Olhando agora para essa época, verifico que tinha uma grande facilidade em enumerar e encontrar mil e um defeitos em mim mesma e, paralelamente, uma imensa incapacidade de me atribuir qualidades. Para mais, não sabia como aceitá-las quando gentilmente me teciam um elogio.
Sim, era infeliz. Achava-me diferente, inferior a todas as outras raparigas. Mas, na minha infelicidade tinha a sensatez de conservar um amor imenso a todos aqueles que me eram queridos, o que me permitia ser uma excelente actriz – tendo sempre em reserva um sorriso aberto, que chocava com a triste-za patente nos meus olhos negros, que inevitavelmente espelhavam o que me ia na alma.
Ainda hoje, quando conheço alguém concentro-me e presto mais atenção à ‘voz dos seus olhos’ do que propriamente à das suas palavras. Aprendi isso em criança, quando a timidez falava mais alto e o rubor invadia as minhas fa-ces, tornando-as rosadas. Então, falava imenso com o olhar, era tão mais fácil e, acreditem, assim é possível ler a alma em toda a sua plenitude.
Mas para resolver o meu problema interior isso não era suficiente. Resol-vi, pois, ser modelo e manequim. Pensava que desta forma conseguiria o cari-nho e a atenção de que há tanto carecia, dando nas vistas, sendo motivo de admiração para todos, sendo até – e porque não? – um ídolo para as outras jovens com o mesmo problema e dificuldades.
Mas tudo não passaria de um grande engano. Na altura não entendi que continuava invisível aos olhos de todos, já que admiravam o modelo, o corpo, não a mulher e o ser humano.
Teria mesmo ido além de uma anorexia nervosa se não acordasse a tempo do mundo de ilusão em que vivia e não tivesse procurado ajuda. É complexo de mais conseguir retratar por palavras todo o sofrimento e angústia e infelici-dade interior que sentia tão profundamente e de que ninguém dava conta.
Recuando alguns anos, até 1996, quando tinha apenas 16 anos e frequen-tava o liceu como todas as outras adolescentes, poder-se-ia dizer que era uma aluna bastante aplicada, que sobressaía pela notória timidez e pela vontade de aprender sempre mais.
Na época era sonho comum a todas as jovens ‘brilhar’, sobressair num mundo desconhecido, que tinha tanto de apaixonante como de ilusório, o mundo da moda. Todas queriam ser elegantes, as mais belas, as mais magras. Ser magra, essa era a palavra de ordem e eu não era excepção à regra. Devora-va todos os artigos de beleza e de moda em segundos.
No liceu era conhecida como a ‘menina-mulher’, porque, apesar da tenra idade, já tinha o corpo bem definido, aparentando mais idade. Talvez por isso, era constantemente alvo de invejas de raparigas e de ‘cobiça’ pelos rapazes, o que me entristecia profundamente, pois isso dava frequentemente origem a que as minhas ditas amigas se afastassem de mim.
Na aparência não era como todas as outras: não era magra nem gorda, mas era mais alta, mais vistosa e roliça. A dada altura determinei-me a perder peso rapidamente, de modo a ser aceite como igual e também para tentar a minha sorte na minha realização pessoal no mundo da moda, que tanto me fascinava, onde todos os sonhos pareciam possíveis e a felicidade tão real que só de pensar nessa possibilidade ficava com um brilho especial nos olhos.
Comecei então a minha caminhada em busca daquilo que era para mim o meu sonho. Tentei pedir conselho às minhas colegas de escola, mas de nada serviu – pouco me diziam, não me davam a atenção necessária quando tocava nesse assunto e pouco me ajudaram.
Inscrevi-me então num ginásio perto de minha casa, que passei a frequen-tar assiduamente. Comecei a praticar exercício físico desmesuradamente, mas como não tinha qualquer tipo de aconselhamento médico, de modo a conciliar o exercício com uma dieta equilibrada, alimentava-me pouco e mal. Passava horas a fio sem comer nada ou então tinha ataques de fome desmedidos, que me faziam sentir muito mal. O resultado desta primeira experiência não podia ter sido pior: ganhei peso em vez de o perder!
Por outro lado, devido ao excesso de exercício físico, ganhei imensa mas-sa muscular, fazendo com que a balança não mentisse e o ponteiro avançasse um pouco mais, levando-me ao desespero.
Nos tempos livres ocupava-me a ler revistas de moda e beleza, em busca de soluções para mudar a minha aparência, pois tinha vergonha de mim. Infe-lizmente, esse sentimento perseguiu-me durante muito tempo. Não se tratava de algo fútil, por simplesmente querer agradar ou querer ser melhor que as outras – eu nunca me quis sobrevalorizar a ninguém, só queria sentir-me ama-da, capaz, feliz.
Mas era excessivamente dura comigo própria, admito agora. Existia uma luta constante na minha cabeça. Eu era a minha pior inimiga e não o percebi a tempo.
Vivia obcecada com dietas, com calorias, com a prática de exercício físico, mas negava-me a consultar um médico para pedir aconselhamento ou sim-plesmente para falar sobre o que sentia. Tinha de o conseguir sozinha, sem a ajuda de terceiros. Tinha de sofrer, de lutar, pois afinal o problema era só meu.
Para mim, todos me mentiam. Todos me diziam que era muito bonita as-sim, que estava muito bem, quando na verdade eu olhava-me ao espelho e a imagem que este reflectia era exactamente a oposta – via uma miúda feia e gorda. Sim, perdi totalmente a noção da realidade. As pessoas por vezes desva-lorizam-nos e nós acabamos por acreditar.
A imagem que eu via, que tinha de mim, era completamente distorcida, pois eu simplesmente ‘não me via’, estava em busca de ver alguém que criara no meu imaginário. Os meus olhos traíam-me e não me deixavam ver que era uma jovem normalíssima, igual a tantas outras.
Daí que para concretizar o meu sonho tivesse realmente de perder algum peso, uns cinco quilos, não mais que isso, mas sofrer e reger a minha vida nes-se sentido era inadmissível.
Certa manhã ganhei coragem e decidi desafiar a sorte. Escrevi para uma agência de modelos, enviei duas fotografias e mencionei a minha intenção, ficando a aguardar por uma resposta. Entretanto continuava com a minha ro-tina diária, na escola e em casa.
Um dia, finalmente, a resposta à minha carta chegou.» (...)

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