Opinião
Numa América de inícios de século XX, num ponto qualquer do país, representativo da vida rural da altura, George e Lennie, dois trabalhadores sem casa e sem terra, deambulam pelas fazendas procurando trabalho sazonal que lhes permita, como milhares de americanos nesse tempo, amealhar algum dinheiro de forma a alimentarem o sonho de virem a comprar e cultivar a sua própria terra. Objectivo muito perseguido mas igualmente frustrado por todas as tentações criadas para que que qualquer trabalhador rapidamente delapide o mísero ordenado mensal que recebe.
George é um tipo pequeno e muito espertalhaço, Lennie o clássico grandalhão, extremamente forte, mas com uma inteligência (roçando o atraso mental) tão baixa que nem sabe cuidar de si, precisando de George para orientar a sua vida. Ambos chegam a uma nova fazenda, onde foram chamados para trabalhar durante algum tempo, e todo o enredo e tragédia mórbida final deste romance ocorrem neste espaço. Com um proprietário prepotente, e um filho de proprietário zaragateiro que provoca toda a gente, casado com uma mulher que se oferece a todos os homens que aparecem na fazenda, estão lançados os dados para um destino fatal que George antevê quase desde o início mas que não consegue evitar em virtude do demasiado rápido desenrolar dos acontecimentos.
Outros trabalhadores, com sonhos activos e continuamente adiados, se encontram na fazenda, onde um indivíduo negro é segregado por todos os outros, e um indivíduo mais velho, já sem uma mão, mas com algum dinheiro, alimenta a esperança de se vir a juntar ao sonho conjunto de George e Lennie.
Romance pequeno mas extremamente representativo da crueldade da vida rural nesses tempos, ilustra, um pouco à imagem daquilo que este mesmo autor faz em «As Vinhas da Ira», o preço que o sonho paga quando existe uma abissal diferença de condições de vida entre os homens num mesmo espaço, mostrando o lado podre do sonho americano, onde impera a lei do mais forte em todo o expoente de toda a crueldade por aqueles que podem, razão pela qual este livro foi recentemente banido das bibliotecas públicas dos Estados Unidos.
Com um final angustiante mas significativamente comovente da inocência do ser humano, há ilusões que podem terminar sem chegarem a morrer, e outras que morrem em troca de uma vida mais lúcida e realista.