Opinião

   No mais recente romance do nosso nobel José Saramago, surge-nos um personagem só e que se aborrece e que, numa tentativa de dar alguma distração à sua vida, decide visionar um filme cómico de 5ª categoria que havia sido sugerido por um amigo. Ao visionar distraidamente esse filme, o nosso personagem dá de caras com um actor que é em tudo semelhante a ele, aliás, é um cópia escarrada dele próprio.
   A partir daí e por exclusão de partes visionando vários filmes da mesma produtora, acaba por descobrir o nome desse actor (secundário) e, mais tarde a sua morada.
   É uma história tipicamente à Saramago, mas longe de ser o melhor dele. Em termos narrativos está excelente, no entanto, perde-se em demasiados eufemismos e os diálogos imaginários entre a personagem e o senso comum são extremamente maçudos e não vêm trazer nada e novo à história. A mesma tem um desenvolvimento muito lento, pagina a página somos confrontados sempre com os mesmos medos, as mesmas situações, as mesmas divagações algo filosóficas que tanto Saramago aprecia.
   Porém, o fim do livro é espectacular. Acontecimentos irreais surgem numa velocidade vertiginosa; devora-se página a página sempre com o "coração nas mãos", embora tenhamos pistas, nunca sabemos o que vem a seguir.
   Enfim, um romance agradável, aprazível, mas algo monótono no seu conteúdo global.