Opinião
Com este romance vencedor do Booker Prize (1999), Coetzee relata-nos a história de um professor universitário que cai em desgraça. A queda da personagem principal acompanha a decadência da sociedade sul-africana pós apartheid.
Pode-se especular quanto à intenção do autor criar uma relação causa-efeito entre as desgraças que atingem o professor David Lurie e a sua filha, com a violência e constante clima de insegurança que marcam as relações sociais e raciais na África do Sul.
Mas o presente romance não é apenas o relato dos insucessos das personagens. Enredado nas diversas teias que Coetzee magistralmente tece, encontramos o profundo confronto entre opções de vida diametralmente opostas, o amor surpreendente que por vezes apenas se pode sentir pelos animais (surpreendente porque não se pede nada em troca), a procura do sentido da vida nas mais pequenas coisas.
Sobretudo, este livro marca pela discrição da dor física e psicológica, pelo amor de um pai pela filha que, por maior que seja, não a pode salvar do destino por ela escolhido. Esse destino talvez esteja na expiação dos pecados cometidos pelos seus antepassados, através da sujeição aos frutos do mal por estes semeados.
Excerto
(...) a poesia ou nos fala de imediato ao coração ou pura e simplesmente não nos diz nada. Um lampejo de revelação e um lampejo de resposta. Como um relâmpago. Como quem se apaixona.
Será que os jovens ainda se apaixonam, ou ter-se-á esse mecanismo tornado obsoleto hoje em dia, desnecessário e antiquado como uma locomotiva a vapor?