O ódio à razão, tão frequente nos nossos dias, é devido em grande parte ao facto dos movimentos da razão não serem concebidos duma forma suficientemente fundamental. O homem dividido contra si mesmo procura estímulos e distracções; ama as paixões fortes, não por razões profundas, mas porque momentâneamente elas lhe permitem evadir-se de si próprio e afastam dele a dolorosa necessidade de pensar.
Toda a paixão é para ele uma forma de intoxicação, e desde que não pode conceber uma felicidade fundamental, a intoxicação parece-lhe o único alívio para o seu sofrimento. Isso, no entanto, é o sintoma duma doença de raízes profundas. Quando não há tal doença, a felicidade provém da plena posse das suas faculdades. É nos momentos em que o espírito está mais activo, em que menos coisas são esquecidas que se sentem alegrias mais intensas. Esta é, sem dúvida, uma das melhores pedras de toque da felicidade. A felicidade que exige intoxicação de não importa que espécie, é falsa e não dá qualquer satisfação. A felicidade que satisfaz verdadeiramente é acompanhada pelo completo exercício das nossas faculdades e pela compreensão plena do mundo em que vivemos.

Bertrand Russell, in "A Conquista da Felicidade"

1. Os «Valores Ocidentais»
2. O Desgaste da Inveja
3. A Tirania do Medo
4. O Êxito e a Felicidade
5. Dizer Mal dos Outros, Ouvir Falar Mal de Nós
6. O Elogio do Trabalho
7. A Felicidade Provém da Plena Posse das Suas Faculdades
8. O Alimento do Espírito Vem de Fora
9. Quanto Mais Objectos de Interesse um Homem Tem, Mais Ocasiões Tem Também de Ser Feliz
10. Amizade sem Tabus
11. É Fundamental Cultivar Interesses Exteriores
12. Nada é Tão Fatigante Como a Indecisão
13. Entender os Nossos Impulsos
14. O Jugo da Maquinaria Política
15. O Abismo da Agitação
16. Sem Privação Não Há Felicidade
17. O Medo do Aborrecimento
18. A Essência do Fanatismo
19. A Grande Renúncia
20. A Habilidade Específica do Político
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