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Giovanni Papini

Itália
9 Jan 1881 // 8 Jul 1956
Escritor

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Todos os Homens São Proprietários

Todos os homens são proprietários, mas na realidade nenhum possui. Não são proprietários apenas porque até o último dos pedintes tem sempre alguma coisa além do que traz em cima, mas porque cada um de nós é, a seu modo, um capitalista.
Além dos proprietários de terras, de mercadorias, de máquinas e de dinheiro, existem, ainda mais numerosos, os proprietários de capitais pessoais, que se podem alugar, vender ou fazer frutificar como os outros. São os proprietários e locadores de força física - camponeses, operários, soldados - e proprietários e prestadores de forças intelectuais - médicos, engenheiros, professores, escritores, burocratas, artistas, cientistas. Quem aluga os seus músculos, o seu saber ou o seu engenho obtém um rendimento, que pressupõe um património.
Um demagogo ou um dirigente de partido pode viver pobremente, mas se milhões de homens estão dispostos a obedecer a uma palavra sua, é, na realidade, um capitalista, que, em vez de possuir milhões de liras, possui milhões de vontades. O talento visual de um pintor, a eloquência de um advogado, o espírito inventivo de um mecânico são verdadeiros capitais e medem-se pelo preço que deve pagar, para obter os seus produtos, quem não os possui e carece deles. E não existe ninguém, a menos que seja paralítico ou néscio, que não possua uma porção de capitais da segunda espécie, ainda que seja a sua capacidade de trabalho físico, vendível, como qualquer outro bem, com um contrato verdadeiro e apropriado.

Dir-se-á que os possuidores dos capitais pessoais são forçados, para viver, a cedê-los, dia a dia, aos capitalistas que dispõem dos bens visíveis e estão, por isso, ao seu serviço. Mas essa dependência, para quem vê claro, é recíproca: um proprietário de terras, mesmo que possua meio país, é como se não tivesse nada, se não encontra camponeses que façam frutificar os seus latifúndios; o grande fabricante tem de vender como sucata as suas excelentes máquinas, se não conta com operários que as façam funcionar e produzir lucros; o político está às ordens do especulador, mas este não poderá efectuar os seus negócios, se não dominar, por meio daquele, a opinião pública e o Estado; e se médicos, advogados e professores não poderiam viver sem doentes, culpados e ignorantes, é igualmente verdade que os segundos, em determinados momentos, não podem prescindir dos primeiros. Até o aleijado, o cego e o leproso obtêm um certo rendimento das suas muletas, da sua escuridão e das suas chagas.
Por conseguinte, aqueles a que os instigadores da plebe chamam «possuidores de nada», «destituídos» ou «deserdados» não existem.

Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'




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