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Opinião de Leitura
Assim falava Zaratustra Assim falava Zaratustra

Autor: Nietzsche, Friedrich

Leitor: Luís Rijo

Opinião

Nietzsche no livro "Assim falava Zaratustra" dá voz àquele que desejou existir: "o super-homem".

O super-homem é precedido por Zaratustra e por todos os mortais. Nietzsche considera que "deus está morto", mas algo semelhante é capaz de ser criado. Essa criação fundar-se-ia no super-homem, onde um homem supremo viria revolucionar o mundo do comum dos mortais.

Zaratustra, a personagem que precede o super-homem, vive numa caverna e dela, um dia, resolve sair. Após essa saída introduz aos homens, a si mesmo, e às coisas, um discurso superior que, além da super-crítica que faz acerca dos homens, também fala do outro (o super) que poderá existir.

Pouco fica por generalizar e comentar nos discursos de Zaratustra; evidencia a liberdade que os homens podem ter e não exercem apenas por medo; Assim, nos discursos, existe a revelação de que os homens não foram apenas a imagem histórica que as instituições procuraram transmitir. Os homens também foram um ser livre, ou tentaram.

A clarividência de Zaratustra é feita de uma forma discursiva que se demarca pela oralidade nele contida. Assim grita Nietzsche ao mundo na forma de Zaratustra, que não gostando do que vê, fecha-se novamente na sua caverna. E dança...

Excerto

«O ideal na minha opinião seria olhar a vida sem qualquer desejo, e não deixando pender a lingua como um cão.

Seria ser feliz na contemplação, pura, estranho às contendas e à avidez do egoísmo, ser, dos pés à cabeça, frio e pardo como a cinza, mas com olhos embriagados e lunares.

O que eu preferia, sugere a si próprio o espírito iludido, seria amar a terra com um amor lunar e só com os olhos aflorar a beleza.

E aquilo a que eu chamaria o Imaculado Conhecimento de todas as coisas, seria nada pedir às coisas, antes apresentar-lhes um espelho de cem faces»

Ó sentimentais hipócritas! ó libidinosos! Falta-vos a inocência do desejo, e por isso chegásteis a caluniar o desejo.

Em verdade, não é como criadores, como procriadores, como amigos do devir, que amais a terra.

Onde reside a inocência? Onde há vontade de engendrar? E aquele que criar o que o ultrapassa é, a meus olhos, aquele cujo querer é mais puro.

Onde reside a beleza? Onde todo o meu querer me obriga a a querer; onde quero amar e perecer para que uma determinada imagem se não mantenha unicamente uma imagem.

Amar e perecer; há eternidades que as duas palavras vão juntas. Querer amar, é aceitar mesmo a morte. Eis o que tenho a dizer-vos, ó poltrões!

E para cúmulo, eis que os vossos enviazados olhares de castrados pretendem ser «serenidade»! E ainda dizeis que deveria ser chamado «belo» o que se abandona ao aflorar dos olhos cobardes! Ó profanadores das palavras nobres!

Mas o vosso castigo, espíritos imaculados, puros contempladores, é que jamais dareis à luz, por mais amplos, por mais maduros que vos mostreis no horizonte.

Em verdade, tendes sempre na boca grandes frases; pretendeis fazer-nos acreditar que o vosso coração está cheio a transbordar, ó mentirosos!

Quanto a mim, contento-me com palavras humildes, desprezadas, tortas; de boa vontade apanho o que cai da mesa dos vossos banquetes.

Mas, mesmo com este pouco, ainda vos posso dizer a verdade hipócritas. Com as minhas espinhas, as minhas conchas e os meus espinhos, posso, ó hipócritas, picar-vos o nariz.

Ao vosso redor, ao redor dos vossos banquetes, o ar está sempre empestado, pois os vossos pensamentos impuros, as vossas mentiras e os vossos mediocres mistérios contaminam a atmosfera.

Ora ousai acreditar um pouco em vós próprios e no que tendes no ventre! Quem não acredita em si próprio, mente.

A vossos próprios olhos, espíritos «puros», vos ocultais sob a máscara de um deus, e em vós se dissimula, sob a máscara de um deus, o mais horrível dos vermes.

Em verdade, sois capazes de criar a ilusão, ó «contemplativos»! Também Zaratustra se deixou outrora iludir pelas vossas pelagens divinas; não adivinhava que horrível nó de víboras os habitava.

Julguei ver, outrora, brincar nos vossos olhos uma alma divina, ó adeptos do conhecimento «puro». Nesse tempo, não conhecia a arte superior dos vossos artifícios.

A distância escondia-me a imundície e o cheiro nauseabundo da serpente, e esse estratagema do lagarto que ali se introduzia em busca do prazer.

Mas aproximei-me e fez-se luz, como agora se faz também para vós; e logo terminaram esses amores lunares.

Vede o ar envergonhado e pálido que a lua toma perante a aurora!

Pois eis a aurora que aparece já, ardente; vem cheia de amor pela terra. O amor do sol é sempre inocência e desejo criador.

Olhai-o, acorrendo impaciente de além dos mares. Não sentis a sede e o hálito ardente do seu amor?

Ele quer beber o mar e até aspirar toda a sua profundidade, e o desejo do mar segue para ele os seus milhares de seios.

Quer ser beijado e aspirado pela sede do sol; quer tornar-se brisa e altura e caminho para a luz; e luz ele próprio. Em verdade é com um amor solar que amo a vida e todos os mares profundos.
E eis em que para mim consiste o COnhecimento: em aspirar tudo o que é profundo até à minha própria altura.

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