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Opinião de Leitura
Um Bom Homem é Difícil de Encontrar Um Bom Homem é Difícil de Encontrar

Autor: O'Connor, Flannery

Leitor: Paulo Neves da Silva

Opinião

«Um Bom Homem é Difícil de Encontrar» trata-se de um livro de contos pautados pelo sórdido e pelo imprevisto, com finais quase sempre surpreendentes e que majoram ou realçam os extremos de situações cuja fatalidade se justifica plenamente com o epílogo de cada um deles. Com uma escrita agradável e muito cuidada, com um detalhe narrativo adequado a cada conto e às mensagens que pretende fazer passar, a autora expõe uma série de episódios distintos que caracterizam aspectos caricatos das motivações que regem a vida de cada um, e como essa mesma vida, em qualquer momento, lhes troca as voltas ou precipita o seu destino de uma forma impiedosa ou macabra.

Os dez contos presentes no livro são:

«Um Bom Homem é Difícil de Encontrar»
Um criminoso assassino, intitulado "O Inadaptado", encontra-se à solta. Uma família composta pelos pais, dois filhos pequenos e a avó resolvem fazer uma viagem de carro. Perdem-se para se encontrarem com o inadaptado, que, entre traumas psicológicos e lições filosóficas, de uma lucidez a toda a prova, não se deixa demover pela afabilidade da avozinha.

«O Rio»
Uma criança a quem os pais não ligam quase nada vê-se envolvida num ritual religioso que a afecta psicologicamente e a induz, mais tarde e por sua única iniciativa, numa acção irreversível que crê ser a sua salvação.

«A Vida que Pode Salvar a Sua»
Mr. Shiftlet é um homem bom do campo, e promete a uma idosa proprietária de uma quinta casar com a sua filha deficiente e fazê-la muito feliz. A intenção é verdadeira, mas interiormente algo de estranho se passa com este homem que mostrará aquilo que realmente é quando alcança as suas intenções.

«Uma Visita da Boa Sorte»
Um conto cujo cenário é a subida da escada de um prédio, onde Ruby vai reflectindo e falando com os vários vizinhos que encontra, tentanto exorcizar os seus traumas e negando até à última o que a sua ignorância e obstinação não deixam ver.

«Um Templo do Espírito Santo»
Duas raparigas de um convento vão passar o fim de semana a casa, saem com dois rapazes tão ignorantes quanto elas embora com características diferentes. A prima mais nova e muito mais esperta, que observa tudo isto e afere a moral deduzida destes relacionamentos, e do padre que na missa lhe parece o monstro que os pregadores expulsam da feira apesar de apenas ser o modo como Ele quis que ele fosse, tais como todos os outros.

«O Preto Artificial»
Dois campónios, avô e neto, vão à cidade, onde o neto nunca foi. Uma vez lá chegados, perdem-se, metem-se em aventuras e o avô é obrigado a assumir uma faceta cobarde que o neto dificilmente perdoa, pelo que, quando voltam, reconhece a perversidade e a misericódia que vem da agonia.

«Um Círculo no Fogo»
Mrs. Cope, proprietária de uma quinta, pessoa calma e com uma visão optimista de tudo, e Mrs. Pitchard, sua auxiliar, pessoa mais prática e pessimista. Três rapazes aparecem na quinta, são bem recebidos por Mrs. Cope, mas em breve começam a fazer tropelias, pondo em causa a perspectiva calma e benemérita que Mrs. Cope tem perante os outros. Numa altura da aflição, em que se concretiza o grande receio que ela sempre teve, quando os rapazes deitam fogo á floresta, a reacção dos empregados de Mrs. Cope é calma e serena, reflexo da conduta que ela sempre incutiu neles.

«Um Encontro Tardio com o Inimigo»
O General Sash, velho caquético de 104 anos, e a neta Sally Poker Sash, de 63, ansiosa por ter uma figura tão prestigiada na cerimónia da sua licenciatura. O general à força, que era soldado na guerra civil americana, é acometido por alucinações que levam a um desenrolar e a um desfecho de cerimónia bem diferente que Sally ambicionava.

«A Gente Sã do Campo»
Uma positivista, Mrs. Hopewell, e uma pessoa que pensa que sabe tudo, Mrs. Freeman, enaltecem as virtudes das pessoas simples do campo. Hulga é a filha de Mrs. Hopewell, sem uma perna e com estudos filosóficos que escarnece da mentalidade reinante mas que
se deixa enredar por um vendedor de bíblias que revela a farsa das pessoas simples do campo no seu melhor.

«A Pessoa Deslocada»
Um conto que corresponde a um retrato social dos estados sulistas dos Estados Unidos logo após a segunda guerra mundial, em que há uma certa condescendência com os indivíduos de raça negra e uma grande renitência aos estrangeiros. Mrs. McIntyre possui uma quinta que nunca tem grandes lucros porque emprega pessoas com baixa produtividade. Um dia o padre traz-lhe uma família polaca que fugiu aos horrores da segunda guerra mundial, revelando-se o cabeça de família um trabalhador extremamente eficiente que abala toda a estrutura social dos habitantes da quinta. Vários episódios fracturantes acontecem, mas no final Mrs. McIntyre, vítima da sua moral limitada, é cúmplice passiva num crime que tem um resultado mais funesto que aquilo que poderia esperar.

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