Opinião
Um grande livro não precisa necessariamente de ter um estilo virtuoso, ou um enredo fantástico, muito menos exige uma linguagem simbólica e enigmática. Um grande livro tem que, isso sim, mexer com a alma. E, nesse sentido, este é um grande livro. Enorme.
É impossível ficar indiferente a esta viagem ao coração. A Saga de um Pensador é a nossa vida em livro. Augusto Cury revela-se o verdadeiro mestre na arte de nos apontar o dedo acusador: somos nós, os “normais” que não vemos a verdade, porque vivemos afundados nessa “normalidade” de autómatos. No entanto, só é cego aquele que não quer ver. E Marco Polo, o explorador da vida e protagonista principal do livro (jovem aluno de medicina e depois psiquiatra) mostra-nos como é possível ser feliz abraçando o mundo, em vez de o olharmos como um meio onde pululam inimigos e problemas.
E é entre os miseráveis, na rua, que Marco Polo aprende a arte de ser feliz. Rindo e amando a vida. É ele que nos ensina que as coisas mais importantes da vida são simples e fáceis de adquirir. Que os outros são, também eles, nossos companheiros nessa procura; que a natureza é o mundo de Deus; que a essência do ser está em nós e não no mundo exterior.
Ao longo do seu percurso académico e profissional, Marco Polo enfrenta os maiores e mais temíveis desafios: a ignorância, o egoísmo e a ambição. Mas há uma solução para todos os males: a liberdade. Em grande parte, este livro é um hino à liberdade que podemos encontrar dentro de nós. Como em quase tudo na vida, a solução está na alma.
Essa liberdade é talvez o factor mais importante na construção da felicidade; as correntes que nos prendem ao mundo exprimem-se em três formas de escravatura da alma: a sobrevalorização da opinião dos outros, a criação de necessidades e a recusa do tempo presente, ao sobrevalorizar o passado e ao ter medo do futuro. Ninguém consegue ser livre sem se libertar destas três amarras. No fundo, os grandes problemas da existência derivam das suas maiores qualidades: pensamos, mas fazemo-lo em demasia. Esta sobrevalorização do intelecto leva-nos muitas vezes a desvalorizar o que é simples e belo. Extrapolamos, inventamos fantasmas e adiamos decisões em nome do nosso intelecto. Em nome do pensamento esquecemos essa arma que todos possuímos: a imaginação. Dentro de nós é possível construir mundos de paz, de harmonia, de felicidade. Só a leveza das emoções, a abertura da alma à beleza simples do mundo nos pode dar essa luz que a mente intelectualizada se esforça por apagar.
Em conclusão: este livro não é uma obra-prima da literatura mundial; no entanto é um dos livros mais fascinantes que alguma vez se escreveram; nele encontramos caminhos que, de tão óbvios, nunca conseguimos vislumbrar. Trata-se de um verdadeiro manual de felicidade individual e colectiva. Que mais pode um livro dar a um ser humano?