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Opinião de Leitura
A Montanha Mágica A Montanha Mágica

Autor: Mann, Thomas

Leitor: Paulo Neves da Silva

Opinião

Um livro extenso, um livro recheado de pérolas, um livro que merece uma segunda leitura, um livro iniciático. Hans Castorp, personagem principal do livro, terminada a sua formação académica, vai visitar o seu primo a um sanatório nos Alpes, durante três semanas, sem imaginar que essa estadia lhe iria marcar profundamente a vida.

Nessa estância, Hans vai conhecer várias pessoas que lhe transmitem múltiplas perspectivas sobre a vida e tudo o que a rodeia, o que vai modificando a pouco e pouco o interior deste homem, homem prático que, aos poucos, vai-se deixando enlear nas profundezas da sabedoria, angústias e paradoxos da humanidade; por isso se considerar que este é um romance de iniciação. É fácil o leitor colocar-se no lugar de Hans Castorp e ir fazendo o seu percurso, aprendendo e, sobretudo, reflectindo sobre todo o tipo de temáticas que Mann aborda no livro.
O expoente do livro, do meu ponto de vista, são as dissertações e discussões de Settembrini e Naphta, dois "sábios" rezingões que defendem de forma extrema os seus ideais, centrados na "razão", no caso de Settembrini, e no "espírito", no caso de Naphta. A razão e o espirito travam, sob a magistral batuta de Mann, grandes batalhas, onde cada um deles procura puxar Castorp para a sua causa, mas onde nunca existe um vencedor.

Outros personagens enigmáticos recheiam este romance: Peeperkorn, personagem que ofusca Settembrini e Naphta, com a sua percepção prática de apreciação das coisas boas e belas da vida; Behrens, com a sua visão pragmática e um tanto obscura sobre a doença, entrecortada por obcessões marginais sobre a arte, o belo, a quadratura do círculo (?), que é complementada pelo seu assistente, Krokowski, com conferências e estudos desconcertantes sobre o amor e a doença, e depois sobre o espiritismo e a sua relação com a material física.
Embora influenciado pelas múltiplas dissertações e discussões entre Settembrini e Naphta, existem muitos outros episódios e estágios no romance que influenciam Hans Castorp, sendo de destacar a visão da humanidade que ele tem num sonho durante uma tempestade de neve, sensivelmente a meio do livro.

A sua paixão por Claudia Chauchat, que tem ideais completamente opostos aos dele, as suas próprias experiências pessoais através da discussão do tempo, da arte, a assistência aos doentes terminais, a revelação da música, a estranha passagem pelo ocultismo, etc, tornam este romance uma amálgama de grandes momentos, que é difícil de se aferir o seu real valor com apenas uma leitura. Chegados ao fim do livro, facilmente concluímos que, apesar de algumas partes do livro serem um pouco entediantes, afinal o livro é um conjunto harmonioso e todas as partes têm a sua razão de ser, o que o torna apelativo a uma segunda leitura, não obstante as suas quase 800 páginas.

É o primeiro livro que leio que ficou recheado de marcações, pois muitas dissertações e discussões valem a pena serem consultadas independentemente, e servirem como base de partida de reflexão sobre os inúmeros temas que são abordados e magistralmente dissecados.

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