Opinião

Morte em Veneza é um pequeno romance que relata a metamorfose completa de um homem que, tendo um percurso brilhante na sua vida, através da escrita e publicação de vários livros sobre a disciplina, o rigor e o firme controle da vontade humana, reconhecido por um vasto público, embarca na última aventura da sua vida, em que descobre que a beleza, em todos os seus significados, se encontra num plano diferente de todas as teorias que elaborou até então, transfigurando completamente a forma como encarava a vida até então; complementando-a, enriquecendo-a, como nunca teria suposto.
Essa transfiguração dá-se numas férias fatais que decide fazer, em Veneza, onde encontra o amor, num adolescente, que, tornando-se obssessivo e incontrolável, desafiando e derrubando toda sua filosifa de vida, o leva a descobrir novos sentidos em termos de percepção da vida; embora nunca se materializando ou consumando, esse amor fá-lo desafiar toda a imensa racionalidade sobre a qual alicerçou a sua vida, levando-o a desafiar todos os prenúncios de morte que se lhe avizinham.
Um romance brilhante, que se lê de um fôlego, com um estilo de escrita rigoroso, perfeito nas descrições de todos os ambientes, situações e introspecções do personagem principal, típico da excelente escrita de Thomas Mann, cheio de pequenas passagens sobre a beleza, a arte, a poesia, o amor, que valem por si só, autênticas pérolas de reflexão para o leitor, que dificilmente deixará de as assinalar, detendo-se nelas e relendo-as.