Opinião
Com uma técnica narrativa original, provocadora até, o autor vai desfiando de forma brutal e sem artifícios a sua perspectiva sobre a Áustria (de onde é originário), o Estado, as relações familiares, a vida no campo, a doença, a solidão, a loucura e o suicídio.
Pesado e niilista! A influência do pessimismo de Schoppenhauer é tanta que uma das personagens suicida-se após ter, literalmente, devorado páginas de um livro do filósofo!!
A história começa com o jovem narrador a acompanhar o pai, médico numa zona rural da Áustria, de visita aos seus doentes. De forma incisiva e brutal o narrador vai descrevendo sem compaixão essas visitas e breves encontros. Até a paisagem concorre para um efeito sombrio e denso. De caso em caso, pai e filho chegam ao castelo do príncipe Sarau. O relato da conversa com o príncipe demente ocupa mais de metade do livro e é quase um monólogo de fala obsessiva e trágica.
Definitivamente não aconselhável a deprimidos, melancólicos e afins!
Há muito que não lia um autor tão depressivo.
Excerto
”Ele [o pai médico] achava que era errado negarmos o facto real de que tudo era doença e tristeza.”
"Toda a nossa vida não é mais do que uma permanente tentativa de comunhão com os outros."
"As pessoas andam umas com as outras, falam umas com as outras, dormem umas com as outras e no entanto não se conhecem. Se as pessoas se conhecessem não andavam umas com as outras, não falavam umas com as outras nem dormiam umas com as outras."
"Durante toda a vida o que me devorou foi o esforço por me fazer compreender."
"Cada um de nós aprende a toda a hora um papel ou vários papéis e fá-lo sem saber para que é ou para quem é que os aprende. (…) Anda-se continuamente à procura de um dramaturgo. Quando o pano sobe acaba tudo. O mundo é a escola da morte."
"É surpreendente que sejam exactamente os ricos os que mostram maior propensão para o suicídio, que sejam eles os que primeiro se deixam dominar pelo tédio, a mais terrível de todas as doenças que podem atingir o homem."
"Ao deixar-se dominar pelos sentimentos o homem mergulha no desespero. Onde domina a razão não há lugar para o desespero."