Opinião
O “Homem dos Autógrafos” conta-nos a história de Alex-Li Tandem, um jovem adulto inglês meio chinês, meio judeu, que vende autógrafos, interesse que descobriu ainda adolescente.
A paixão pelas assinaturas famosas faz girar toda uma engrenagem improvável, mas muito real. As obsessões de milhares de “homens dos autógrafos”, os encontros destes especialistas, os negócios, os leilões, as falsificações e as estrelas são alguns dos ingredientes deste brilhante segundo romance de Zadie Smith. De uma maneira divertida, irónica, e muita certeira a autora disseca, e questiona também, alguns dos valores que se vão impondo nas nossas sociedades: a fama, o dinheiro, o espectáculo, a sobreposição do simbólico ao real. Também o obscurantismo e o misticismo, que gozam de crescente poder de sedução, são alvos neste livro delirante.
Tal como em Dentes Brancos, o anterior romance da autora, o cenário é uma Londres colorida, multiétnica, onde se cruzam todas as religiões, se inventam novos cultos ou regeneram fundamentalismos. E no final o que se procura é sempre o mesmo: uma identidade e uma rede de afectos que nos dê um sentido.
Excerto
"A sorte é uma espécie de insulto para o mundo. Os mortos infelizes podiam confirmar isso a contragosto."