Opinião
Um grande escritor a escrever sobre outro grande escritor!
Um contemporâneo e outro do século XIX, ambos fantásticos.
J. M. Coetzee presta, neste brilhante “O Mestre de Petersburgo”, uma homenagem a Fiodor Dostoievski, retratando as suas ambivalências, fraquezas e grandezas. De autor, Dostoievski passa a personagem numa trama que fala de relações entre pais e filhos, da morte, da revolução, dos niilistas... enfim dos temas que sempre lhe foram caros. Coetzee soube agarrar muito bem a atmosfera dos romances de Dostoievski e, por vezes, até parece que estamos a ler o mestre.
Excerto
“- Termos consciência da nossa própria natureza não ajuda, pois não? – (...) Quero eu dizer, é a nossa natureza que nos impele, por mais que pensemos nela. De que serve enforcar uma pessoa se está na sua natureza? É como enforcar um lobo por comer um cordeiro. Não altera a natureza dos lobos, pois não?”
(pp 103-104)
“Assalta-o um terrível desespero (...) mas cujo o âmago é uma crescente certeza de que passou uma oportunidade de se deixar a si próprio tal como é para trás e tornar-se no que ainda podia ser. Eu sou eu, pensa desesperadamente, algemado a mim próprio até à hora da morte.”
(pp 81)