Opinião
Berna, Londres, Viena, Berlim… um retrato poderoso da Guerra Fria. Espiões, agentes secretos, profissionais do disfarce e do embuste, homens sem identidade, perdida entre mil e uma imagens construídas para mentir à procura da verdade.
Pym é o agente perfeito – vendido aos dois lados – que procura durante toda a vida encontrar-se consigo mesmo e redimir a traição à amizade por Axel – o amigo/inimigo.
Por outro lado há o pai – memórias de um progenitor criminoso mas herói. Daqui resulta uma narrativa quase psicanalítica, marcada pelas recordações do passado e escrita, disfarçadamente, na primeira pessoa do singular.
O enredo revela toda a arte de Le Carré, capaz de manter aquele tom enigmático que prende o leitor ao longo de 575 enormes e recheadas páginas. Um livro longo, a espaços cansativo mas nunca maçador.
No final, fica a ideia de um homem sem identidade, perdidos nos disfarces e numa eterna procura que, nos últimos tempos, tenta redimir todo o passado que o tortura.
Na vida de Pym, fidelidade e traição são conceitos ambíguos que vivem lado a lado e se misturam permanentemente. De entre todos os sentimentos conflituosos, emerge em Pym um único que conquista a primazia: a amizade, o valor supremo. Uma amizade que nasce da traição – a única realidade capaz de gerar felicidade.
“A traição é uma profissão repetitiva” (Pág. 564)