Opinião

O livro "Antigos Mestres" é um livro que se digere devagar. Cada frase tem a sua importância e não se consegue ler este livro sem se entender cada palavra, cada frase. É, de facto, uma escrita magnífica, a de Thomas Bernhard. O autor chama comédia a este livro, mas no sentido figurado, onde a palavra comédia assume o tom irónico. Comédia nesta apropriação da palavra significa tragédia. A vida das personagens deste livro é tragicamente entregue a um destino. As personagens curiosamente não lutam para sair do destino em que ficaram, assim cada personagem acomoda-se à sua sorte. Refugiam-se num museu criticando obras de arte, a Áustria e a música que, segundo Thomas Bernhard, é um complemento da arte. As personagens vivem numa prisão criada por si, agarradas a uma vida que nunca sonharam, mas que lhes foi entregue. O fácil. Um retrato da sociedade austríaca há décadas atrás que curiosamente é muito igual à portuguesa nos dias de hoje.

Comentários

Um livro que pode despertar o interesse na arte.

Excerto

"A verdadeira inteligência não conhece a admiração, toma conhecimento, respeita, considera e é tudo, disse ele. As pessoas entram em todas as igrejas e em todos os museus como se levassem uma mochila cheia de admiração e têm, por tal motivo, sempre esse andar curvado que se torna repugnante e todas têm nas igrejas e nos museus, disse ele. (...)

A admiração torna as pessoas cegas, disse Reger ontem, torna estúpido o admirador. A maior parte das pessoas, quando uma vez entrou na admiração, não sai da admiração nunca mais e é, por isso, estúpida. A maior parte das pessoas é estúpida durante toda a a vida porque apenas admira. Não há nada para admirar, dise Reger ontem, nada, absolutamente nada. Porque o respeito e a consideração é para as pessoas demasiado difícil, elas admiram, sai-lhes mais barato, disse Reger. A admiração é mais fácil que o respeito, a consideração, a admiração é uma característica do estúpido, disse Reger. Só o estúpido é que admira, o inteligente não admira, respeita, considera, compreende, assim é que é."