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Opinião de Leitura
A mancha Humana

Autor: Roth, Philip

Leitor: Isabel Reis

Opinião

A "Mancha Humana" é um livro poderoso, na linha da "Pastoral Americana". Philip Roth volta a reflectir sobre a América e as suas contradições capaz de albergar em paralelo o pensamento liberal e as atitudes hipócritas,forjadas num politicamente correcto absurdo. De novo as minorias: judeus, negros, os emigrantes e também as feridas que a guerra do Vietname abriu.
Mas para além de tudo isto achei a "Mancha Humana" uma magnífica dissertação sobre a liberdade e sobre o preço que se paga para se conseguir ser apenas nós próprios.
"Como evitar aquilo/Cujo fim é determinado pelos poderosos deuses?"
Coleman Silk tenta libertar-se do estigma racial e forjar a sua própria identidade. Faunia re-inventa-se pela relação com Silk, uma relação que quer manter exclusivamente de cariz sexual. Delphine Roux foge do seu país e da sombra tutelar dos pais para conseguir ser ela própria. Mas o preço que cada um deles vai pagar pela afirmação do seu "eu" é muito elevado.
Este livro é também uma história sobre as últimas oportunidades que a vida nos concede: oportunidade de voltar a amar mesmo que já velho, de ser amado e protegido quando tudo o mais se desmoronou, de redenção, e de esperança.

Resta acrescentar que este foi dos melhores livros que já li.

Excerto

- Tenho uma ligação, Nathan. tenho uma ligação com uma mulher de 34 anos. nem lhe sei explicar o bem que me fez.
(...)
Durante quarenta anos fez o que era necessário fazer. Andou atarefado, e a natureza, que é a besta, mudou-se para uma caixa. Agora essa caixa está aberta. Ser reitor, ser pai, ser marido, ser intelectual, professor, ler livros, dar lições, corrigir textos, dar notas, tudo isso acabou. Evidentemente que já não é a vigorosa besta lúbrica que foi. Mas o que resta da besta, o que resta dessa coisa natural, é com isso que ele está agora em contacto, com o que resta. E sente-se feliz por isso, sente-se grato por estar em contacto com o que resta. Sente-se mais do que feliz: sente-se emocionado, e já está ligado, profundamente ligado a ela, por causa dessa emoção. Não é de família que se trata, a biologia já não lhe serve para nada. Não é família, não é responsabilidade, não é dever, não é dinheiro, não é uma filosofia partilhada ou o amor à literatura, não são grandes discussões de ideias. Não, o que o liga a ela é a emoção. Amanhã descobrem-lhe um cancro e acabou-se. Mas hoje, agora, tem essa emoção.

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