Enquanto os meninos ricos frequentam colégios caros que ajudam a subir as notas para assegurar acesso ao subsidiado ensino público, resta aos mais pobres frequentarem o ensino público secundário para depois, vítimas da concorrência desleal dos primeiros, se verem obrigados a enormes sacrifícios para frequentarem as universidades privadas

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A matemática não permite que uma porta esteja aberta e fechada ao mesmo tempo - uma doce ilusão que tendemos a amar. O seu estudo exige persistência, método, rigor, investimento a longo prazo - valores de compatibilização difícil com o exame atento do Big Brother em particular e o funcionamento do mercado em geral. Aprender matemática não paga - excepto se o jovem matemático quiser ser médico, profissão que lhe dará dinheiro a rodos - ou pelo menos esse sonho. A sociedade não dá prémio suficiente aos jovens que aprendem matemática no ensino superior; dá mais dinheiro e prestígio aos que fazem estudos mais fáceis - e tantas vezes de menor valor social

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Conheço muita gente indignada com a iniquidade que é haver gente a arrastar-se, anos e anos a fio, por um curso que talvez um dia conclua, à custa, não de talento ou esforço, mas de simples inércia. Quanto paga o País por um curso destes? E, na maioria dos casos, para que é que ele serve? Para nada, a menos que seja para justificar um corpo docente dimensionado em termos tais que boa parte das verbas para as universidades, à partida, está consignada a despesas com pessoal. Depois, faltam bibliotecas, faltam laboratórios, faltam salas, falta tudo. O que mais há são motivos de queixa para os estudantes, os quais, no entanto, insistem em defender exactamente o imobilismo que está na origem de boa parte daquelas. O papel que desempenham é, por isso, conservador, senão mesmo retrógrado

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A formação superior não é nem um privilégio nem um direito. É uma necessidade social absoluta, num país com taxas baixíssimas de licenciados e que precisa de se modernizar urgentemente. Não são os jovens que têm «direito» a ser «doutores». É a sociedade portuguesa que carece, desesperadamente, de médicos, juristas, engenheiros, cientistas sociais, etc.

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O ensino tem um papel civilizador e ético. A vida tem de ter reflexão, que pressupõe conhecimentos e informação. A função última do ensino é "promover a compreensão". O ensino deve formar pessoas que depois da escolaridade continuem a interrogar-se. A qualidade da educação condiciona toda a nossa vida pessoal: como poderemos ajudar os outros se não possuirmos o conhecimento que ilumine a visão que temos deles, que permita reconhecermos os seus sentimentos e colocarmo-nos no seu lugar, respeitando-os nas suas legítimas opções?

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Inculcou-se a ideia de se poder aprender tudo a brincar, de que a aula deve ser a continuação do recreio. É absolutamente falso. Claro que o ensino deve ser o mais atraente e motivador possível... não é isso que está em causa. Mas é fundamental o treino da leitura, da ortografia, da escrita, da aritmética elementar. As crianças precisam de ser treinadas para dominar esses instrumentos "automáticamente" e poderem beneficiar da etapa seguinte. Se esta ideologia do "tudo a brincar" não for erradicada, teremos em breve uma escola pública frequentada apenas pelos filhos dos pobres ou dos que não se preocupam com a educação dos filhos

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As crianças socialmente desfavorecidas são vítimas do sistema: roubaram-lhes a oportunidade de mudarem a sua condição. Essa mistificação liga-se a um dos pressupostos da ideologia que domina o sistema, o pressuposto de que o aumento da exigência acentua as diferenças sociais. O que é um absurdo porque, se é a exigência que faz a diferença, então é a exigência que pode ajudar as crianças socialmente desfavorecidas

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Os estabelecimentos de Ensino Superior que existem na Europa confrontam-se com novos desafios: uma maior procura de formação superior por parte dos jovens europeus, mas também de cidadãos de todas as idades que querem ou devem adaptar os seus conhecimentos de estudantes aos de outros continentes; a vontade das empresas de estreitar laços com as universidades; a necessidade de intensificar a cooperação entre universidades e centros de investigação. (...) Os dirigentes de empresas que encontro dizem-me todos o mesmo: não faltam universidades prontas a aceitar o dinheiro deles sem, no entanto, oferecerem qualquer contrapartida, por considerarem que o mundo empresarial e o mundo universitário devem manter-se estanques, um em relação ao outro. É reformando a universidade, tornando-a mais competitiva, abrindo-a ao Mundo e à sociedade que se atrairão mais investimentos por parte das empresas

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