Ser inocente é ter um olhar longo e aberto, mas ser pequeno. É estar - ombro a ombro - com todo o universo e ser grande, ter brilho e voz (e vida) só porque se é precioso para alguém. Ser inocente é deixar que a beleza nos atropele, um ror de vezes, a razão. E sempre que isso se descobre, nunca prometer que se deixa de escutar, primeiro, o que se sente. Ser inocente é estar aberto. Mesmo que isso crie um burburinho, e ponha tanto em dúvida tudo aquilo que supunhamos saber que, no entanto, nesse rebuliço o coração se engasgue e nos deixe descalços. Talvez, por tudo isso, só os sábios sejam inocentes. E, por mais que nos comova a sensibilidade em tudo aquilo que eles sabem, é o encantamento com que deixam que a vida os corteje que nos toca.
Notícias Magazine (DN) / 20060108