Hoje, mais importante do que os factos são os relatos que deles se fazem. Por mais notórias que sejam as cedências aos gostos e aos emolumentos do relator, é isso que fica. Aliciantes deformações fazem carreira, numa cultura que promete salvação aos crentes e condenação aos dubitativos. Isso acontece nos textos do dia-a-dia e, mais estranho ainda, nos chamados fazedores de opinião que, quase sempre, apresentam como essência das coisas os apriorismos que na sua cabeça auto-elaboraram. Por norma, estes últimos nem comentam os factos apenas comentam a especialíssima leitura que deles fizeram, chegando ao ponto de longamente comentarem o que em absoluto desconhecem. Raramente se coloca a razão como objectivo: necessidades de protagonismo e outras tudo consomem.
Jornal de Notícias / 20080307