A rua não é um sítio para ter razão. Na rua não valem os argumentos, valem os números, vale a presença física. Na rua, o adversário não se ouve, não existe, não conta: é referido apenas para ser assobiado, insultado, queimado em efígie. Na rua, a multidão torna-se uniforme: não se divide, não discute - não é real. A rua das manifestações é um espaço privatizado, ocupado e delimitado pelos "organizadores", onde não se ouvem outras vozes - é a negação do espaço público democrático, que é por definição aberto e plural.
Público / 20080312