Muitas vezes, a memória torna-se clemente com as coisas que, sendo tristes, não são nem preponderantes nem indiferentes para nós. As coisas tristes não precisam de ser episódios que nos sangrem na alma. Estão por ali. Não as conseguimos ignorar nem as queremos esquecer: acompanham-nos como o som, fanhoso, de um rádio antigo que atropela todas as tentativas de saborear um silêncio. As coisas tristes não nos deprimem nem nos amarguram, por exemplo. E isso é bom. Mas adormecem e põem-nos de costas para o futuro. E isso é péssimo.
Notícias Magazine (DN)
/ 20051023