O que todos estes síndromas de viajantes nos ensinam de forma pungente é que, por mais que nos desloquemos para longe, muito longe da nossa origem, o que encontramos é sempre o que estava afinal dentro de nós.
Esta moda (de viajar) que tantos pensam ser sinal de sofisticação só revela almas inquietas, que não se suportam a si mesmas e mudam constantemente de sítio no desespero de fazerem férias de si próprias, que é afinal aquilo que sem saber procuram. Quando vamos a tantos lugares que os lugares se transformam em produtos de consumo passam a ser não-lugares e as pessoas que aí vemos não-pessoas. Um não-lugar cheio de não-pessoas é um sítio desumano, uma plataforma espacial que não interessa a ninguém a não ser ao consumidor de viagens.
A viagem com sentido é a viagem que parte da nossa pequenez à descoberta da extensão intensa do mundo. Deste género de viajante disse Rimbaud que é aquele que parte para partir. Vai sem pacote turístico pré-formatado, sem consulta prévia dos trajectos e dos hotéis na Internet, sem se importar com a funcionalidade do cartão de crédito nos poisos onde for bater. É um viajante com desejo da procura do outro: contempla a etnodiversidade com a mesma aitutude com que o biólogo sabe que o planeta é esmagadoramente complexo e variado. E, num resumo às vezes surpreendente desse contacto com o radicalmente diferente, dá por si a concluir que afinal as gentes são muito parecidas por todo o lado...
O turista é um ser inferior. Desde quando pisa um negro no metro de Nova Iorque e diz "I love you" em vez de dizer "I'm sorry", até quando acaba o dia esgotado no hotel, carregado de compras que não quis fazer e a cabeça à roda com os monumentos que visitou
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