Debaixo dos panos da civilização, somos todos animais que nunca saíram das cavernas. Não fazemos mais nada senão procurar a caça, a comida, homem ou mulher, fortificar o espaço vital, combater o inimigo, proteger os filhos, resistir ao invasor, dominar o outro. Em geral as pessoas são estranhas e não são assim tão estranhas.

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Quem choca ou dialoga não são civilizações mas indivíduos.

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Antes de saber se as civilizações podem chocar ou devem dialogar, é preciso ver bem se esta história de dividir as pessoas por civilizações faz sentido.

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Vivemos mais tempo, trabalhamos menos, divertimo-nos mais, estamos mais saudáveis e prósperos que nunca. Mas não estamos mais felizes. Porque, por melhor que se fique, seremos sempre miseráveis pois, vivendo a vida como um concurso, há sempre outro que fica à frente.

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Este espírito de campeonato que hoje permeia a nossa civilização é um dos principais factores na origem do paradoxo da nossa infelicidade.

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No Ocidente dos nossos dias, a palavra civilização surge demasiadas vezes, e de modo irónico, aconchegada entre aspas. Comum parece ser a ideia de que a civilização Ocidental é a máscara perfeita para um conjunto de interesses, inconfessáveis, que desejam em permanência o domínio do Mundo. Assim, o progresso será a “marcha da História”. O conhecimento será o “estado natural da Humanidade”. A riqueza será o “destino do Homem”. A tranquilidade será um “Direito Universal”. Para esta ingénua filosofia, nada teremos de preservar – a civilização resume-se a uma dádiva da Natureza. Mas como escrevia Edmund Burke, para que a barbárie se afirme basta que o homem civilizado se acomode à inacção.

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Se uma civilização não gera os instintos necessários para sobreviver, é porque não merece sobreviver.

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Sempre haverá gente para matar os frangos que nós comemos na mesa ou para degolar o porco donde vamos depois extrair umas suculentíssimas costoletas. Se milhões de animais são sacrificados todos os dias para que possamos alimentar-nos, também é certo que há a outra morte, a morte malvada, sanguinária, cruel; a delinquência, as máfias, a extorsão, a exploração, o assassínio, a tortura.

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O Holocausto tornou claro que a barbárie mais abjecta pode ser obra de gente dita civilizada.

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Todos nós somos perversos à medida que nos vamos civilizando e pondo de parte uma naturalidade

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