Sempre ouvi dizer que os povos são o que comem. Acrescento que os povos também são o que falam, como falam e, sobretudo, a maneira como se saúdam. Uma simples saudação pode ser um indicador mais expressivo da identidade de um país do que milhentas sondagens.
Quando um povo fala muito de si é preciso desconfiar - deve andar meio perdido ou de alguma maneira diminuído como povo. Tão melhor estará o povo quanto prescinda de sequer se afirmar como tal. O ápice de um povo é ele sequer se lembrar que é povo.
Costuma dizer-se que os povos felizes não têm história. Talvez seja verdade. Talvez só os povos infelizes tenham história. Mas a história dos povos infelizes tem uma característica curiosa: é sempre a mesma história. Nisso consiste, precisamente, a sua infelicidade.
A riqueza das nações não aparece porque elas a merecem, mas porque elas a criaram ou, em alternativa, não fomentaram hábitos de desperdício, de provincianismo, de luxo excessivo.
Vivemos a nevrose da dúvida. O desalento português tem a progénie numa flagelante desconfiança de nós próprios. O que nos conduz a ser apáticos ou agressivos. As fontes medievais da nossa literatura falam de violência e de melancolia. A ciclotimia que cunha o modo de ser português e que, afinal, celebra o fado e a pega de caras.
Os portugueses cultivam a propensão fatal de se interrogarem sobre o que é que se passa com eles, para logo mergulharem nos refegos da ontologia barata. E põem-se a debater longamente porque é que «nós» somos «assim». A enfadonha conclusão é sempre a mesma somos «assim» porque nunca nos dispusemos a ser de outra maneira. Quando alguma vez o fomos, foi porque nos obrigaram a isso.
As lições da História e os exemplos do quotidiano têm demonstrado que, em crises de maior amplitude, a determinação e a vontade do povo foram capazes de reconstruir as estruturas da sociedade, rejeitando uma cultura de fatalidade nacional e derrotismo sistemático.
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