Mia Couto
Moçambique
n. 5 Jul 1955
Escritor/Biólogo
n. 5 Jul 1955
Escritor/Biólogo
357 Citações
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Por estranho complexo de inferioridade, estamos sempre receosos de que os outros nos venham influenciar. E não reparamos no movimento inverso. Hoje, os maiores escritores ingleses são oriundos da Ãsia, a maior fadista portuguesa vem de Moçambique e uma das maiores cantoras de flamengo espanhol é uma negra da Guiné Equatorial.
E se Obama Fosse Africano?
O escritor usa uma lÃngua dentro da lÃngua, uma pátria que ele inventa não para viver mas para sonhar. Ele não se serve da lÃngua, o criador literário é inventado pela lÃngua. O que ele sabe são ignorâncias, ele é um especialista em ausências e silêncios.
E se Obama Fosse Africano?
A escrita é uma casa que eu visito, mas onde não quero morar. O que me instiga são as outras lÃnguas e linguagens, sabedorias que ganhamos apenas se de nós mesmos nos soubermos apagar.
E se Obama Fosse Africano?
Se a razão é a poesia – e a minha causa é só essa, a criação poética – então, o importante não é tanto a lÃngua, nem sequer o quanto ela nos é materna. Mais importante é essa outra lÃngua que falamos mesmo antes de nascermos. Nesse registo está a porta e o passaporte em que todos nos fazemos humanos, fabricadores da palavra e, com igual mestria, criadores de silêncio.
E se Obama Fosse Africano?
O silêncio é, tanto quanto a palavra, um momento vital de partilha de entendimento.
E se Obama Fosse Africano?
Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias.
E se Obama Fosse Africano?
Essa habilidade em produzir diversidade, esse é o segredo da nossa vitalidade e das nossas artes de sobrevivência. Temos que saber manter essa capacidade - agora no plano cultural e civilizacional - para respondermos à s novas ameaças que sobre todos nós pesam. As saÃdas que nos restam pedem-nos não o olhar do lince mas o olho composto da mosca.
Pensatempos
A cidade não é apenas um espaço fÃsico mas uma foija de relações. É o centro de um tempo onde se fabricam e refabricam as identidades próprias.
Pensatempos
Quando me pergunto porque escrevo eu respondo: para me familiarizar com os deuses que eu não tenho. Os meus antepassados estão enterrados em outro lugar distante, algures no Norte de Portugal. Eu não partilho de sua intimidade e, mais grave ainda, eles me desconhecem inteiramente. As duas partes de mim exigiam um médium, um tradutor. A poesia veio em meu socorro para criar essa ponte entre dois mundos. E a cidade, a minha casa, a minha famÃlia: esses foram os aconchegos em que a poesia em mim nasceu.
Pensatempos
