Miguel Esteves Cardoso

Portugal
n. 25 Jul 1955
Crítico/Escritor/Jornalista

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212 Citações

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Para um português, o castigo redime. O sofrimento alivia. Concreta a ansiedade. Enche o vazio. Dá um foco à errância desfocada da alma. Eu sei lá.

As Minhas Aventuras na República Portuguesa
Os portugueses estão drogados com o sofrimento. São «junkies» da melancolia. Injectam-se com as próprias misérias e, quando estas faltam, com as alheias. Acham que o sofrimento faz bem à alma.

As Minhas Aventuras na República Portuguesa
Ninguém precisa de nós como um bebé. O amor é uma coisa pequena comparada com a verdadeira necessidade. É fácil amar quem precisa muito de nós. É fácil amar quem sente absolutamente a nossa falta.

As Minhas Aventuras na República Portuguesa
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No jogo do casamento jogam-se coisas valiosas, como liberdade, propriedades e outras vidas. Na versão clássica do jogo, que é a melhor, os homens não querem casar. Só que são apanhados. A semelhança entre o verbo «casar» e «caçar» não pode ser por acaso. Num bom jogo do casamento, os homens não casam - «são casados». São as mulheres que os casam, que nem coelhos, cosendo-os depois com mimos e temperos, à casadoura. E eles adoram.

As Minhas Aventuras na República Portuguesa
Para cada mulher, a população feminina é um exército de rivais. Os homens são mais cobardes – não aguentam mais do que quatro ou cinco rivais. As mulheres podem com a terra toda.

Os Meus Problemas
Quem nos quer, quer-nos «in toto», mas satisfaz-se com pouco. Não se pode dar mais. Um bocadinho tem que parecer bastante. E se dermos tudo, tem de parecer pouco. Ela nunca pode saber. Se não perdemo-la. É preciso haver sempre uma parte que parece inacessível.

Os Meus Problemas
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Deus existe porque o homem sozinho não consegue existir. Morre. Vive um bocadinho, faz umas coisas e depois morre. Deus existe porque a Arte não é suficiente. Deus existe porque o Amor não chega. Deus existe porque o homem sozinho é pior. É mais mau. É mais triste. É mais só.

Último Volume
Não se pode ser nem mole nem inconstante nas amizades e inimizades. É preciso ser-se sincero e malcriado. É preciso dizer-se «Eu não gosto de si». É preciso dizer-se «Você é um verme». Os inimigos são mais fáceis de criar que os amigos e às vezes são mais úteis e dão-nos maior satisfação.

Último Volume
Se Portugal teve valor na história do mundo, não foi no esforço da uniformização, igual a tantos outros. Não foi na imposição de uma língua, de uma religião, de uma raça. A glória do império português não foi o facto de ter sido português contra as nacionalidades que subjugou. Foi ter sido capaz de ser português sem deixar de ser outras coisas. No máximo, foi ter sido português por ter sido tudo menos português. Ou quase tudo.

Último Volume
As pessoas podem fazer o que quiserem, mas ninguém liga ao que elas fazem. Para os portugueses só interessa a cara que têm. Pode ser-se arquitecto mas se calha ter «cara de quem nunca fez um desenho na vida» está lixado. Pode nunca ter provado uma pinga de vinho na vida mas se alguém afirma que é alcoólico e há outro que diz «Tem cara disso...» pode considerar-se bêbado para todos os efeitos. Pode ser a pessoa mais amistosa e gregária do mundo, mas se tem «cara de pouco amigos» toda a gente foge dele.

Último Volume
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