Um Sopro de Vida

por: Clarice Lispector
Brasil
10 Dez 1920 // 9 Dez 1977
Escritora

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48 Citações

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O quotidiano contém em si o abuso do quotidiano: o quotidiano tem a tragédia do tédio da repetição. Mas há uma escapatória: é que a grande realidade é fora de série, como um sonho nas entranhas do dia.
Acho que devemos fazer coisa proibida – senão sufocamos. Mas sem sentimento de culpa e sim como aviso de que somos livres.
A diferença entre o doido e o não-doido é que o não-doido não diz nem faz as coisas que pensa.
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Eu sou uma actriz para mim. Eu finjo que sou uma determinada pessoa mas na realidade não sou nada.
Milagre é o ponto vivo do viver. Quando eu penso, estrago tudo. É por isso que evito pensar: só vou mesmo é indo. E sem perguntas por que e para quê. Se eu pensar, uma coisa não se faz, não aconteço. Uma coisa que na certa é livre de ir enquanto não aprisionada pelo pensamento.
A realidade não me surpreende. Mas não é verdade; de repente tenho uma tal fome de «coisa acontecer mesmo» que mordo num grito a realidade com os dentes dilacerantes. E depois suspiro sobre a presa cuja carne comi. E por muito tempo, de novo, prescindo da realidade real e me aconchego a viver da imaginação.
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Quem fica atento ao ritual da fé pode perder o objecto da fé.
Acho que Deus não sabe que existe. Tenho quase a certeza de que não. E daí vem a sua veemente força.
Afianço que só se vive, vida mesmo, quando se aprende que até a mentira é verdade. Recuso-me a dar provas. Mas se alguém insistir muito em «porquês», digo: a mentira nasce em quem a cria e passa a fazer existirem novas mentiras de novas verdades.
A realidade é mais inatingível que Deus – porque não se pode rezar para a realidade.
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