Ana Hatherly
Portugal
n. 8 Mai 1929
Poeta/Romancista/EnsaÃsta/Artista Plástica
n. 8 Mai 1929
Poeta/Romancista/EnsaÃsta/Artista Plástica
40 Citações
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Algo está sempre a acontecer. Por isso escrevo. Escrevo porque algo aconteceu ou acontece. Escrever é isso, mas escrever é sobretudo produzir o acontecer.
A compaixão é uma forma de ofensa.
Nada preenche o vazio essencial que a escrita revela.
O estatuto da realidade: descobrir esse doce exercÃcio destrona a ascética parcimónia do pensar racional. Mais do que um mero crepúsculo, flexÃvel ou determinado, o pensamento precisa de ilusão e assim a obra de arte abre-se em leque sobre o inventário do mundo.
Keats disse que uma coisa bela é uma alegria eterna. Hoje a beleza é a voz sufocada de uma perdida sabedoria.
Entre o frÃvolo e o trágico: a amargura do pioneiro. Depois de ter sofrido tantas humilhações por ser de vanguarda, quando chega à maturidade, o pioneiro vê os que vieram depois usufruir do que ele descobriu, ignorando-o. A consciência do real é um inútil oxÃmoro que morde.
O conflito que a ordem impõe: quando se multiplicam os pontos de vista nasce a desordem.
Quando o pensamento deixa de estar a ser pensado logo se transforma na parábola do faminto, no desamparo da errância.
Pensar o presente conduz necessariamente ao desespero porque a vida não tem outra solução senão perpetuar-se na sua imperfeição.
O homem invisÃvel é uma metáfora de todas as coisas impossÃveis com que sonhamos: a felicidade, o amor, o saber que nos escapa. Entre o próximo e o longÃnquo está o prazer que se experimenta num instante supremo mas essa plenitude está fora do nosso campo visual.
