Se alguém se inebria com o seu saber ao olhar para baixo de si, que volte o olhar para cima, rumo aos séculos passados, e abaixará os cornos ao encontrar aí tantos milhares de espíritos que o calcam aos pés. Se ele forma alguma ligeira presunção do seu valor, que se recorde das vidas dos dois Cipiões e dos incontáveis exércitos e povos que o deixam muito para trás. Nenhuma particular qualidade dará motivo de orgulho aquele que, ao mesmo tempo, tiver em conta os muitos traços de imperfeição e debilidade que em si há e, enfim, a nulidade da condição humana.
Porque Sócrates foi o único a compreender acertadamente o preceito do seu Deus, o de conhecer-se a si mesmo, e através de tal estudo, ter chegado a desprezar-se, só ele foi julgado digno de sobrenome de «sábio». Quem assim se conhecer, que tenha a audácia de, pela sua própria boca, o dar a conhecer.

Michel de Montaigne, in 'Ensaios - Da Exercitação'

1. A Vantagem do Espí­rito Simples
2. A Verdadeira Amizade
3. Nada nos Satisfaz
4. A Virtude Pura não Existe nos Dias de Hoje
5. A Arte da Retórica Floresce nas Sociedades Decadentes
6. O Nosso Desejo Aumenta com a Dificuldade
7. Um Único Estilo de Vida não é Viver, é Ser
8. Amor e Amizade
9. Nunca Estamos em Nós, Estamos Sempre Além
10. Somos para Nós mesmos Objecto de Descontentamento
11. As Amizades Comuns
12. A Instabilidade e Imprevisibilidade do Nosso Comportamento
13. A Hipocrisia do Ser
14. Os Parceiros mais Vigorosos
15. Evitar a Sabedoria de Umbigo
16. Contente Está Quem Assim se Julga de si Mesmo
17. Ninguém Morre Antes da Hora
18. Ignorância Sábia
19. Aprender a Morrer para Saber Viver
20. Somos Traídos pela Nossa Própria Percepção e Experiência
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