Os que crêem que sabem mais que os outros, ou se enganam, ou se persuadem bem: se se enganam, o mesmo engano lhes serve de ludíbrio; se se persuadem bem, a vaidade da ciência os faz tão ferozes, e severos, que ficam sendo insuportáveis. A ciência humana comummente se reveste de um ar intratável; imagem tosca, desagradável, e impolida. A especulação traz consigo um semblante distraído, e desprezador; quanto melhor é uma ignorância educada. Toda a ciência se corrompe no homem; porque este é como um vaso de iniquidade, que tudo o que passa por ele, fica inficionado: as coisas trabalham por se acomodarem ao lugar donde estão, e por tomarem dele as propriedades, só com a diferença, de que as cousas boas fazem-se más, porém estas não se fazem boas. Nas sociedades, o mal é mais comunicável; a perdição é mais natural; o que é bom, mais depressa tende a perder-se, que a melhorar-se; os frutos da terra quando chegam ao estado de maturidade, nem persistem nele, nem retrocedem para o estado de verdura; antes caminham até que totalmente se arruinem; por isso o último grau de perfeição, costuma ser o primeiro na ordem da corrupção.

Matias Aires, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'

1. A Vaidade como Base da Sociedade
2. Vaidade a Qualquer Preço
3. Tudo é Avaliado pela Nossa Vaidade
4. O Amor não se Pode Definir
5. O Que Esconde o Admirável
6. O Último Grau de Perfeição Costuma Ser o Primeiro na Ordem da Corrupção
7. A Inveja só Incide sobre os Vivos
8. A Vaidade Deforma a Alegria e a Tristeza
9. A Alegria Pura só Existe sem a Vaidade
10. Em Nada Podemos Estar Firmes
11. A Vaidade Cega a Sabedoria
12. A Facilidade é Aborrecida em Tudo
13. O Gosto é a Causa da Aparência
14. Entendimento Influenciado pela Vontade
15. Inveja é Vaidade
16. A Firmeza é um Atributo Essencial de Morte
17. A Vaidade no Sofrimento
18. O Valor dado pela Vaidade
19. A Fraqueza dos Nossos Sentidos
20. Não há Fortuna sem Vaidade
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