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Pedro Chagas Freitas

Portugal
n. 25 Set 1979
Escritor

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Manifesto pelo Amor Real

Que nunca uma meia esquecida seja uma ternura interrompida. Que nunca haja quem ame só quem não falha. Que haja sempre apalpões para dar e para receber. Que nunca um beijo deixe de ser roubado sempre que necessário. Que o sofá sirva para amar e não só para estar. Que até as paredes sirvam para unir. Que um quarto seja carinho mas também suor. Que ninguém se esqueça de dizer o que sente e de sentir o que diz. E que se faça de dois muito mais que a soma de um mais um.
Porque o amor é acertar mas também é errar. Porque o amor é paixão mas também é paciência. Porque um abraço serve para amar mas também para salvar. Porque quem é amado tem duas vidas nas mãos. Porque a vida aperta e só o amor liberta. Porque um casal é um casal só quando se livra do mal. Porque estar cómodo não é estar parado. Porque estar seguro não é não ir a nenhum lado. Porque não existe amor sem tesão nem tesão sem amor. Porque só o que é revolução nos tira da mão. E porque se não nos tira da mão não é amor: não.
Decreto o final do não aquece nem arrefece, a abolição do tédio. Decreto um número mínimo de beijos por dia, um número mínimo de abraços por dia. Decreto a pena de uma noite de sexo para quem desrespeitar os mínimos. Decreto que se festeje a dois, sim - mas mais ainda que se sofra a dois. Decreto que só as lágrimas unem até ao osso. Decreto que quem ama não perdoa, apenas continua a amar e amar também é perdoar. Decreto que a geografia nunca definiu distâncias e proximidades, que ciência alguma sabe quem se deve amar. Decreto que nem sempre tudo corre na perfeição e é também isso que nos faz perfeitos. E decreto acima de tudo que te decreto amar acima de tudo.
Quero que saibas que sou insuficiente. Quero que saibas que sou carente. Quero que saibas que sou falível, talvez até incorrigível. Quero que saibas que peco por te querer demais ou por te desejar demais ou por te proteger demais ou por te procurar demais ou por te sentir demais. Quero que saibas que se não há excesso nenhum não há amor nenhum. Quero que saibas que às vezes falo o que não devia falar, ou calo o que não devia falar, mas tudo o que digo ou deixo de dizer é apenas para nada nos interromper. Quero que saibas que podia ser melhor, infinitamente melhor, mas nunca fui melhor do que aquilo que já me fizeste ser. Quero que saibas que me irrito quando se calhar não devo, que me precipito quando se calhar não devo, que insisto quando se calhar não devo, que teimo quando se calhar não devo. Quero que saibas que lamento todas as lágrimas que te fiz chorar, todas as lágrimas que por ti chorei – mas lamento ainda mais todas as decisões que tomei por medo das lágrimas. Quero que saibas que amar também é chorar, que amar também é superar. Quero que saibas que envelhecer contigo é a parte boa da velhice. Quero que saibas que há um ponta de loucura em nós, e ainda bem. Quero que saibas que há uma ponta de doçura em nós, e ainda bem. Quero que saibas que sou lamechas como sou desvairado, e que se não for de ti não sou de nenhum lado. Quero que saibas que se só houver uma vida foste a mulher da minha vida. E se houver mais o serás também.

Pedro Chagas Freitas, in 'Prometo Perder'




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