João de Deus

Portugal
8 Mar 1830 // 11 Jan 1896
Poeta/Pedagogo

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Adeus Tranças Cor de Ouro

Adeus tranças cor de ouro,
Adeus peito cor de neve!
Adeus cofre onde estar deve
Escondido o meu tesouro!

Adeus bonina, adeus lírio
Do meu exílio de abrolhos!
Adeus, ó luz dos meus olhos
E meu tão doce martírio!

Adeus meu amor-perfeito,
Adeus tesouro escondido,
E de guardado, perdido
No mais íntimo do peito.

Desfeito sonho dourado,
Nuvem desfeita de incenso
Em quem dormindo só penso,
Em quem só penso acordado!

Visão, sim, mas visão linda,
Sonho meu desvanecido!
Meu paraíso perdido
Que de longe adoro ainda!

Nuvem que ao sopro da aragem
Voou nas asas de prata,
Mas no lago que a retrata
Deixou esculpida a imagem!

Rosa de amor desfolhada
Que n'alma deixou o aroma,
Como o deixa na redoma
Fina essência evaporada!

Gota de orvalho que o vento
Levou do cálix das flores,
Curto abril dos meus amores,
Primavera de um momento!

Adeus Sol, que me alumia
Pelas ondas do oceano
Desta vida, deste engano,
Deste sonho de um só dia!

No mesmo arbusto onde o ninho
Teceu a ave inocente,
Se volta a quadra inclemente,
Acha abrigo o passarinho;

Mas eu nesta soledade
Quando em meus sonhos te estreito
Rosto a rosto, peito a peito,
Acordo e acho a saudade!

Adeus pois morte! adeus vida!
Adeus infortúnio e sorte!
Adeus estrela-do-norte!
Adeus bússola perdida!

João de Deus, in 'Campo de Flores'
// Consultar versos e eventuais rimas




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