Elas São Vaporosas
Elas são vaporosas,
Pálidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar...
Vêm, aéreas, dançar
Com perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos...
Chora no som dos repuxos
O ritmo que há nos seus vultos...
Passam e agitam a brisa...
Pálida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em auréola à hora...
Passam nos ritmos da sombra...
Ora é uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene...
E assim vão indo, delindo
Seu perfil único e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim lÃvido e frio...
Passam sozinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longÃnquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
Pálido pálio lunar ...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
// Consultar versos e eventuais rimas