O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqüestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIV"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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2. Quando Vier a Primavera
3. Agora que Sinto Amor
4. A Espantosa Realidade das Cousas
5. Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade
6. Há Metafísica Bastante em não Pensar em Nada
7. Eu Sou do Tamanho do que Vejo
8. Hoje de Manhã Saí Muito Cedo
9. Não me Importo com as Rimas
10. Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes
11. A Mentira Está em Ti
12. A Tua Beleza para Mim Está em Existires
13. É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma
14. Um Dia de Chuva
15. Para Além da Curva da Estrada
16. Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda
17. Quando Está Frio no Tempo do Frio
18. Quando Eu não te Tinha
19. Pelo Tejo Vai-se para o Mundo
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