A Presença do Mal
Alguns leitores disseram-me ter sentido a presença do Mal durante a leitura desse livro. Não creio que um simples romance possa chegar a tanto. E é perigoso falar do Mal como algo exterior que tivesse sido posto no mundo com a missão única de nos atormentar para ver o que valemos, se lhe resistimos ou se nos deixamos levar por ele. Em meu entender, Mal, Bem, Deus, Diabo, todas essas supostas potências benignas e malignas que têm povoado a imaginação dos povos como presenças efetivas, só na nossa cabeça é que habitam, não têm realidade fora dela, ou só a têm como consequência dos nossos atos, isto é, são os nossos atos que põem no mundo a maldade, e às vezes (valha-nos isso) a bondade.
José Saramago, in 'Último Caderno de Lanzarote'