As Três Fases da Moralidade
Temos o primeiro sinal de que o animal se tornou homem, quando a sua actuação já não se relaciona com o bem-estar momentâneo, mas com o duradouro, proÂva de que o homem adquire o sentido do "útil", do "adequado": é então que, pela primeira vez, irrompe o livre senhorio da razão. Um estádio ainda mais eleÂvado é alcançado, quando ele age consoante o prinÂcÃpio da honra; graças ao mesmo, ele adapta-se, subÂmete-se a sentimentos comuns, e isso ergue-o muito acima da fase, em que só a utilidade entendida em termos pessoais o guiava: ele respeita e quer ser resÂpeitado, isto é, entende o proveito como dependente do que ele opina acerca dos outros, do que os outros opinam acerca dele. Finalmente, na fase mais elevaÂda da moralidade em uso até agora, ele age segundo o seu critério quanto à s coisas e à s pessoas, ele próprio determina para si e para outros o que é honroso, o que é útil; tornou-se o legislador das opiniões, em conformidade com o conceito cada vez mais desenÂvolvido do útil e do honroso. O conhecimento habiÂlita-o a preferir o mais útil, ou seja, a colocar o proÂveito geral e duradouro à frente do pessoal, a respeitosa estima de valia geral e duradoura à frente da momentânea; ele vive e actua como indivÃduo coÂlectivo.
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'