EgoÃsmo Relativo
Por mim, o meu egoÃsmo é a superfÃcie da minha dedicação. O meu espÃrito vive constantemente no estudo e no cuidado da Verdade, e no escrúpulo de deixar, quando eu despir a veste que me liga a este mundo, uma obra que sirva o progresso e o bem da Humanidade.
Reconheço que o sentido intelectual que esse Serviço da Humanidade toma em mim, em virtude do meu temperamento, me afasta, muitas vezes, das pequenas manifestações que em geral revelam o espÃrito humanitário. Os actos de caridade, a dedicação por assim dizer quotidiana são cousas que raras vezes aparecem em mim, embora nada haja em mim que represente a negação delas.
Em todo o caso, reconheço, em justiça para comigo próprio, que não sou mais egoÃsta que a maioria dos indivÃduos, e muito menos o sou que a maioria dos meus colegas nas artes e nas letras. Pareço egoÃsta à queles que, por um egoÃsmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo.
Fernando Pessoa, in 'Notas Autobiográficas e de Autognose'