Velho Imaginado e Criança Recordada
O velho que imagino que serei é o velho que gostaria de ser.
Se morrer antes, não chegarei a velho - esse ou outro. Pode também acontecer que chegue a velho mas que, por motivos invisÃveis desde aqui, não consiga ou não possa ser exatamente esse velho.
Então, a sua única existência será a minha ideia.
De modo semelhante, a criança que fui é a criança que acredito que fui.
Se a criança que sou capaz de recordar não coincidir com a que realmente fui, então essa criança não existiu realmente. A sua única existência é a minha ideia.
E, no entanto, ambos estão aqui - velho imaginado e criança recordada. E também eu estou aqui, entre eles - para onde me dirijo, de onde venho.
A imperfeição com que recordo e com que imagino não me permite afirmações infalÃveis. A única certeza é de que estou em movimento.
José LuÃs Peixoto, in 'O Caminho Imperfeito'