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Opinião de Leitura
No Jardim das Paixões Extintas No Jardim das Paixões Extintas

Autor: Guerra, Álvaro

Leitor: António Manuel Venda

Opinião

   Desaparecido há poucos meses, na madrugada de dezoito de Abril, Álvaro Guerra, o autor da célebre trilogia dos cafés, que na ficção lhe deu fama (Café República, Café Central e Café 25 de Abril), deixou pronto um último romance - No Jardim das Paixões Extintas. Tem como pano de fundo a Guerra Civil de Espanha, e também boa parte do século XX português. Na véspera de morrer, Álvaro Guerra ditou o texto que queria para a contracapa, um texto pequenino de onde por certo já conseguia avistar a morte.
   «(...) E espreita-nos no denso bosque de acácias disfarçadas de subúrbio ou de carruagem de metro, fora de horas, de seringa em punho, a pedir contas. Vou pelo jardim das paixões extintas...»
   Álvaro Guerra nasceu em Vila Franca de Xira em 1936. Escritor, jornalista e diplomata, foi embaixador na Jugoslávia, no Zaire, na Índia, na Suécia e no Conselho da Europa, em Estrasburgo. Teve também uma significativa intervenção política, sendo um dos civis que estavam a par do que viria a ser o 25 de Abril, colaborando na sua preparação com os capitães (um dos seus amigos foi Ernesto Melo Antunes) e alguns jornalistas. Trabalhou na renovação do República, dirigido por Raul Rêgo e Vítor Direito, acompanhando-os depois no diário A Luta. Um pouco antes, em finais de 1974, fora director de informação da RTP, pedindo a demissão depois de se insurgir contra os que queriam impedir a transmissão de um episódio da BBC sobre o pacto germano-soviético. Mesmo com tantas actividades, escreveu uma obra vasta, tendo começado em 1967 com o romance Os Mastins. Com Crónicas Jugoslavas, fruto da sua passagem pelos Balcãs, ao tempo de Tito, obteve o Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores, em 1997. A sua obra, incluindo crónicas e outro tipo de textos - por exemplo sobre guerra de África, incidentes políticos, experiências enquanto embaixador (o caso das referidas Crónicas Jugoslavas) e até tauromaquia -, reflecte a vida portuguesa na segunda metade do século XX e algumas das suas passagens pelo estrangeiro.
   Álvaro Guerra tinha terminado a carreira diplomática e regressado a Portugal em 2001, para se dedicar inteiramente à escrita. O tempo acabou por não ser muito. Este seu último romance, No Jardim das Paixões Extintas, acabou por ser muito para a literatura.

   [Texto retirado da página de António Manuel Venda, www.antoniomanuelvenda.com, Secção 'Crónicas - O Livro da Semana']

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