O arrependimento é a autocrítica e a zanga, intensas e profundas, de quem não pode recuar nem reparar danos que cometeu e que mancharam irremediavelmente a sua auto-imagem.

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A paciência, o lugar último de todas as virtudes bem que pode ser a maior das invenções humanas de conformismo e resignação ao absurdo e ao injusto de todos os dias.

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Provavelmente, a inquietação que nos move, nos obriga a procurar o movimento, os acontecimentos, as emoções que dão sentido ao que somos, inscreve-se nisto a que chamamos condição humana.

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A sensatez é um daqueles valores menores que se invocam quando já não se sabe o que mais há a dizer. Dizer de alguém que é sensato não parece grande elogio, porque fica implícito de maneira tão discreta quanto firme que não existe nada de mais grandioso a relevar na criatura.

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Namorar, hoje em dia, só quer mesmo dizer disponibilizar tempo e atenção. Num mundo em que o tempo é um bem precioso e de primeira necessidade e a atenção só parece exercer-se tão flutuante e escorregadia que nos perguntamos constantemente se alguém nos escuta, é bom, definitivamente óptimo, experimentar momentos de proximidade e partilha de entendimento e plenitude.

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Continuamos a depositar no que se passa fora de nós expectativas enormes e a depreciar o que, bem instruídos e dentro de nós, podemos fazer com o que nos incomoda. Esta externalização excessiva, este quase vício de culpar alguém, penhora o futuro, obedece a uma trama, criteriosa e deliberada, de nos sentirmos sempre pequenos e desamparados, dependentes dos outros.

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Se a maioria de nós desconfia de códigos empoeirados, exegéticos, complexos até ao absurdo, que os homens administram burocraticamente, também é verdade que persiste em nós a ideia peregrina, provavelmente ingénua, de que há uma justiça final, mais terrena ou mais divina, mais atempada ou mais de longo prazo, que seja capaz de repor, de compensar, as perdas e danos que a vida, as circunstâncias,as as pessoas, ou o que for, nos vão provocando.

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Mente-se por tudo e por nada. Mente-se para não incomodar nem afligir, para não se ser demasiado agressivo ou brutal, para não se dar má impressão, para não humilhar o outro; mente-se até para se ser simpático e corresponder ao que o outro ou a situação propiciam.

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Os sentimentos, aquele fluxo que medeia entre o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, a tranquilidade e a inquietação, o desespero e a esperança, a inveja e a gratidão, habitam-nos como uma segunda pele, enchem-nos mesmo na ausência de estímulos e dão-nos, além do mais, algum sentido de existência e de coerência.

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O belo bem que poderia ser uma outra forma de dizer o inatingível. O belo, como todos os conceitos difíceis que usamos levemente, está para lá do que se vê.

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