Um dos prazeres da política é que ela não é uma ciência como a matemática. Todos podem fazer política. É um jogo cheio de mistérios, poder e incertezas. A matemática não permite isso.

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A descredibilização da política advém do facto de os políticos estarem na política para organizar as suas vidinhas.

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A apatia é a doença do nosso tempo. Contamina a Esquerda e a Direita. Infecta Liberais e Conservadores. A Esquerda continua a pensar que os problemas da sociedade se resolvem com grandes teorias e boas intenções. Pelo simples facto de rebentar com bons pensamentos, a Esquerda julga-se pois dispensada das incomodidades do mundo. A Direita sorri complacente perante todo e qualquer esquema orientado para o progresso da Humanidade. Pelo simples facto de que o progresso é uma estranha ilusão que vicia todas as mentes, a Direita julga-se pois dispensada das incomodidades do mundo. Tanto à Esquerda como à Direita, a irracionalidade é o mais óbvio convite ao desastre.

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A política tornou-se ela própria um mercado. Desideologizou-se. Mas não é inevitável que tenhamos de prescindir de a questionar e reinventar.

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É preferível encarar a política como o domínio do realizável. Esta proposta, que muitos leitores se hão-de apressar a rotular de conservadora ou conformista, é realmente inovadora. A mais inovadora, aliás, num país que deixou banalizar a corrupção e o laxismo, e alastrar o provincianismo cultural. Não se trata de retirar o sonho do domínio da política; trata-se, antes, de subtrair a política ao exclusivo domínio do sonho e da moral - e de a ligar ao mundo das pessoas.

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As eleições presidenciais parecem-se com uma peça de Pirandello: poucos dizem coisas com sentido e os restantes têm medo de dizer o que as sondagens de opinião podem desmentir. O poder tem de criar ilusões. Sem isso ele é um produto branco de supermercado.

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O político pós-moderno é um homem sem pensamento estrutural, mas bem apessoado e devidamente assessorado por um punhado de gurus do «marketing» e da comunicação, que lhe dizem o que dizer, como vestir, como gesticular. O político com ideias e atitudes próprias – mesmo que corajosamente contrário às sondagens – e que mesmo correndo o risco de dizer disparates, diz o que verdadeiramente pensa é um espécie em vias de extinção.

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O confronto entre direita e esquerda permanece, mas está reduzido a faixas cada vez mais estreitas do eleitorado. São tantas as matérias em que a pertinência dessa dicotomia desapareceu, que ela própria se desfaz, ou refaz, a cada eleição.

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O descrédito na política e o desprezo pelos políticos são impulsos de autodefesa. Mentem-nos e prosseguem, impunes, uma «carreira» que não deixa nunca de ser afortunada.

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O dinamismo da classe política tornou-se refém do choque tecnológico televisivo: o que interessa é ter audiências rápidas. Há quem acredite que no futuro se inventarão novos formatos para que os cidadãos se entretenham. Talvez estejam errados.

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