A Fascinante Construção do Eu

por: Augusto Cury
Brasil
n. 2 Out 1958
Psiquiatra/Escritor

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10 Citações



Não é fácil dirigir a mente humana; ela é muito mais complexa do que qualquer empresa, aeronave, computador, máquina que o homem já produziu ou produzirá. É possível ser um executivo altamente eficiente e inovador, que administra milhares de funcionários, que sabe qualificar os seus produtos e serviços e que leva a sua empresa a ter todos os anos milhares de milhões de dólares de lucro e, ao mesmo tempo, ser um péssimo dirigente da sua mente, ter uma emoção à beira da falência: fatigada, exaurida, instável, lábil, irritadiça, com baixíssimo limiar para a frustração.
Um Eu passivo e frágil é pior do que uma grave doença psíquica. Não é recomendável gritarmos fora de nós, mas é recomendável fazê-lo dentro de nós.
Um Eu maduro dá aos outros o direito de o abandonarem ou criticarem, um Eu imaturo tem ataques de raiva quando isso acontece. Parece um herói, mas é um péssimo dirigente da sua psique, vende a sua tranquilidade por um preço vil. Por que preço vende a sua tranquilidade? Dá às pessoas o direito de o contrariarem? É extremamente relaxante não ter a necessidade de ser perfeito ou inatacável.
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Só se acha perfeito quem nunca se arriscou a sair da superfície. Temos a possibilidade de ficar na superfície ou de entrar em camadas mais profundas da nossa mente. É uma escolha fascinante.
É muito mais fácil desenvolver um Eu com "defeitos" estruturais: radical, extremista, automatizado, fóbico, obsessivo, tímido, inseguro, omisso, dissimulador, intolerante, impulsivo, ansioso, hipersensível, insensível, controlador, punitivo, autopunitivo, com uma necessidade neurótica de poder, de evidência social, de estar sempre certo. Quem não tem alguns destes defeitos, ainda que minimamente? Que psiquiatra, psicólogo, médico não tem avarias no seu arcabouço psíquico? O problema não é tê-las, mas reconhecê-las. A questão não é só reconhecê-las, mas saber o que fazer com elas.
As obras-primas da mente humana, como proatividade, flexibilidade, generosidade, solidariedade, adaptabilidade, ousadia, capacidade de libertar o imaginário, raciocínio esquemático, abstração intuitiva, pensar como espécie, colocar-se no lugar dos outros, trabalhar frustrações, desenvolver resiliência, filtrar o stresse, debater ideias e gerir a ansiedade, não são apenas sofisticadas, mas também difíceis de serem incorporadas, assimiladas e reproduzidas pelo Eu.
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Usamos o pensamento para pensar o mundo, mas se o usarmos para pensar em como pensamos, entenderemos que todos somos crianças diante de tão insofismável complexidade.
Um Eu malformado terá grandes probabilidades de ser imaturo, ainda que seja um gigante na ciência; sem brilho, ainda que seja socialmente aplaudido; de viver de migalhas de prazer, ainda que tenha dinheiro para comprar o que bem desejar; rígido, ainda que tenha grande potencial criativo.
Embarcamos diariamente na mais complexa das aeronaves, comandada por um piloto frequentemente mal preparado, mal equipado e mal formado e, portanto, sujeito a causar inúmeros acidentes. Essa aeronave é a mente humana, e o piloto é o próprio Eu.
Temos a possibilidade de ficar à superfície ou de penetrar as camadas mais profundas da nossa mente. Dedico este livro a todos os que se arriscam a deixar a superfície e procuram conhecer os mecanismos de formação do Eu saudável e inteligente. Sem conhecer e desenvolver tais mecanismos, temos grandes possibilidades de sermos imaturos, ainda que portadores de indubitável cultura; miseráveis, ainda que tenhamos grandes somas de dinheiro; frágeis, ainda que investidos de poder.
 
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