A Filha do Arcediago
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Os homens entendem-se pelas palavras, e eu gosto de quem não está a fazer uma grande mastigada de palavras bonitas para dizer o que se diz em duas palavras. (...) Eu gosto da franqueza, e a gente muitas vezes perde por falar de mais e falar de menos.
Forte é a razão do homem que se dá voluntariamente a esperanças quiméricas, e crenças sem crítica... O forte é esse, que vence a própria razão...
Os poetas fazem monopólio dos suspiros, mas, honra lhes seja feita, não encarecem o género; barateiam-no de modo que não há consumidora que tenha razão de queixa.
O amor!... diz bem... É bem triste recordá-lo; mas o ridículo manda sufocar as expansões de um coração que não envelheceu ainda. Dizem que os cabelos brancos são veneráveis. Se o são, é só nos patriarcas, nos profetas, e nos apóstolos.
Dizem que existe um amor lentamente criado pelo hábito, emanação da amizade contraída pela semelhança de vontades, resultado de uma demorada elaboração de dous espíritos que se consagram no mutuo sacrifício de propensões e desejos. Não sei o que seja isto. A razão rejeita essas cândidas teorias. Eu só creio no amor não esperado, não granjeado por sacrifícios, não calculado de dia para dia.
O infortúnio illumina o entendimento. Para o que sofreu não ha mistérios de dor no coração do estranho.
Eu gosto dos portugueses. Viajei alguns meses na sua terra, e simpatizei com as mulheres, que são quase todas gordas e vermelhas. Eu gosto muito das mulheres vermelhas e gordas.
Isto de ser poeta não é lá grande cousa. Pelos modos, o miolo dos tais patavinas não regula bem... Eu sempre tive cá minha birra com homens que fazem disso.
A verdadeira e duradoira amizade firma-se na independência.
Neste mundo ha só duas cousas que me afligem: são os maus charutos, e madrugadas antes da uma hora da tarde. No mais entendo que este globo é o melhor de todos para quem não tiver calos e reumatismo.
