Correspondência

por: Florbela Espanca
Portugal
8 Dez 1894 // 8 Dez 1930
Poetisa

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104 Citações

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A questão dinheiro não me prende duma maneira exagerada, se bem que me não desagradasse ganhar algum para satisfazer os meus dois vícios: flores e livros.
Não há dinheiro que chegue para se viver com uma certa decência numa cidade.
Não falaremos de política nem de religião; não nos entenderíamos. Sou pagã e anarquista, como não poderia deixar de ser uma pantera que se preza...
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Eu só sei falar dentro de quatro paredes e um telhado; ao ar livre, principalmente em frente ao mar, sou Guilherme, o Taciturno.
Nunca fui bonita , e sempre vi em volta de mim mais rapazes do que talvez nenhuma rapariga visse em toda a vida, e, como vês, sou hoje a criatura mais desprendida de tudo isso que tu poderias ter encontrado no teu caminho.
Nem saúde, nem dinheiro, nem liberdade. A pantera está enjaulada e bem enjaulada, até que a morte lhe venha cerrar os olhos, e da sua miserável carcaça cinzele um tronco robusto a latejar de seiva, ou uma sôfrega raiz a procurar fundo a água que lhe mate a sede.
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Eu sou uma mulher, e uma criança, e uma artista que se julga alguém.
Sou uma criatura vulgarmente educada, vulgarmente inteligente, vulgarmente cultivada. Tudo vulgar, querida, tudo!
Muitas vezes as nossas mais delicadas atenções, as nossas maiores provas de amor, os nossos cuidados são como aquelas pérolas que um dia alguém atirou a uns porcos...
Tanta coisa bonita que me tem dito e como eu gosto que os amigos - mas só os amigos... - me digam coisas assim bonitas!
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