Creio não errar quando comparo o sono ao amor; creio não me enganar ao comparar o amor a uma espécie de sonho a dois, com pequenos momentos de sonho individual, é certo, pequenos jogos de conjunção e de cruzamentos, mas que permite em todo o caso transformar a nossa existência terrestre num momento suportável — e que é mesmo, a bem dizer, a única forma de o fazer.

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Não se pode decididamente influir na vida das pessoas, nem a amizade nem a compaixão nem a psicologia nem a inteligência das situações têm qualquer utilidade, as pessoas fabricam, elas próprias, o mecanismo da sua desgraça, dão corda e o mecanismo continua a funcionar, inevitavelmente, com algumas falhas, algumas debilidades quando a doença vem ao barulho, mas continua a funcionar até ao fim, até ao último segundo.

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Podia ter feito uma mulher feliz. Enfim, duas; já disse quais. Tudo era claro, extremamente claro, desde o início, mas não o tivemos em conta. Teremos cedido a ilusões de liberdade individual, de vida aberta, de infindas possibilidades? Talvez, eram ideias próprias do espírito da época; não as formalizámos, não tínhamos vontade; contentámo-nos em conformar-nos a elas e deixar que elas nos destruíssem; e logo, durante muito tempo, em sofrer com elas.

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Os homens (comparativamente com as mulheres) em geral não sabem viver, nunca se sentem completamente à vontade, pelo que se embrenham em diferentes projectos, mais ou menos ambiciosos, mais ou menos grandiosos, depende, é claro, falham e chegam à conclusão de que era melhor, pura e simplesmente, terem vivido, mas em geral já é demasiado tarde.

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