João Lobo Antunes

Portugal
4 Jun 1944 // 27 Out 2016
Neurocirugião

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Uma coisa que gostaria de ver em Portugal e que ainda não vejo na plenitude: o entendimento de que as instituições são um depósitum de princípios, de valores, que têm de ser transmitidos intactos ou, tanto quanto possível, aperfeiçoados às gerações seguintes; e que estão claramente acima das pessoas. Uma das coisas que sempre me intrigaram é como é que pessoas proeminentes na vida política não entendem isso, e não reconhecem que a sua permanência em cargos ou posições de destaque acaba por ser prejudicial às instituições. Apesar, muitas vezes, da injustiça do juízo que se faz do seu desempenho.
Fiquei tranquilo com a inveja há uns anos quando descobri que a inveja é um sentimento que se auto-castiga. O invejoso deve sofrer horrores, não vive em paz. Nunca mais me preocupei com os invejosos. Os neurocientistas perceberam que o centro do cérebro que está envolvido nesse processo de satisfação pelo desastre que acontece aos outros é o mesmo centro em que está sediado o prazer pelo chocolate, pelo sexo... mais uma vez, a culpa é do nosso cérebro.
A sociedade moderna depende cada vez mais da confiança. Eu compro um automóvel e tenho que estar confiante que, no produto que me estão a vender, os travões não vão falhar. Eu compro um genérico e tenho que confiar que o produto que está lá é exactamente o medicamento de que preciso. Ou que vou ao restaurante e que as pessoas lavam as mãos. É um sistema que implica um imbricamento tão complexo, de parceiros, de funções, que toda a vida moderna se baseia na confiança.
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O dinheiro é um instrumento de poder. É uma coisa imemorial. Está na natureza humana.
Pegando num livrinho de um homem que já morreu, William Henry, In defense of Elitism: a tese principal é a da defesa da igualdade de todos à partida. Não é a igualdade de todos à chegada. É uma tendenciazinha portuguesa – vale tudo o mesmo. Não vale. O que temos de garantir é que, à partida, têm todos as mesmas oportunidades. Esse é que é o grande desafio da democracia e da cultura ocidental. Temos de descobrir em que é que esta obrigação, este mandato, falha. Aplica-se a tudo: à justiça, à educação, à saúde.
Portugal tem várias doenças sistémicas. Se pensarmos que a justiça é o coração, que a saúde é o fígado e que a educação é o cérebro, é um corpo que vai claudicando. Mas a Biologia é uma ciência optimista. Renova-se. Regenera-se. Reconstitui-se.
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Tenho um pensamento optimista na vida em geral, nas coisas em que me meto. Luto por elas. E se tenho derrotas, tento transformá-las em vitórias; ou seja, ver o que há de positivo no que aconteceu. Aliás, este é o único mecanismo que nos permite sobreviver ao erro. Pensar que vai haver outra oportunidade.
 
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