Dom Pedro V
Portugal
16 Set 1837 // 11 Nov 1861
Rei de Portugal (1853-1861)
16 Set 1837 // 11 Nov 1861
Rei de Portugal (1853-1861)
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Enquanto qualquer reforma útil tenha que depender forçosamente de considerações pessoais, as mais das vezes prejudicialÃssimas para o bem público, nunca faremos coisa capaz, e nunca resolveremos satisfatoriamente as grandes questões económicas de que depende o nosso bem estar.
Hoje fala-se com disfarces e com palidez e as acções são o oposto das palavras e a sociedade é tão corrompida, que pais e maridos ofendidos passeiam de braço dado com os heróis de sala.
Fomos grandes, e agora somos pequenos. Ainda não nos podemos acostumar a ser pequenos, e no meio da nossa miséria ainda queremos ostentar um luxo que provoca o escárneo. Desenganemo-nos, não vivamos de ilusões; olhemos para a realidade, e seja este o nosso ponto de partida.
As nossas desagradáveis questões polÃticas têm feito esquecer a natureza verdadeira das cousas, e para os seus fins tem confundido tudo.
Algumas pessoas há que tomam por consolação, quando nós temos alguma coisa má, o não ser ela melhor em outros paÃses; eu não sou da opinião dessas pessoas; parece-me que a sua opinião é uma das muitas formas com que a preguiça e a má vontade se revestem.
Colocar ao lado da noção de direito a noção de dever, é a tarefa daqueles a quem cabe a missão de solidificar o edifÃcio que a revolução social fundou.
Liberdade de pensar, liberdade de escrever... não são compreendidas, senão no estado de cerceamento, pelos que se temem da acção revolucionária da pena, e que ignoram que a sua inacção faz com que a pena possa fazer alguma coisa. Não compreendo a liberdade sem a imprensa livre. O homem é pouco quando lhe cortam a lÃngua.
Quantos parecem ignorar que a massa, a quem iludem, escreve com carvão as palavras, com tinta os actos.
Os olhos já vão rompendo a núvem de poeira que se tem levantado diante deles; e o povo algum dia declarar-se-á solenemente contra o escárneo que há 20 anos todos os governos em Portugal dele têm feito. E fatal e tremendo será esse desagravo. Ainda é tempo de remediá-lo, mas não há tempo a perder.
Se os governos quiserem hoje ser úteis à sociedade, se eles não quiserem adiantar a época do terrÃvel cataclismo que espera um estado de coisas factÃcio em que o dolo e imoralidade e o ludÃbrio do povo ocupa uma parte tão considerável, eles terão que olhar mais pelo povo que padecia em silêncio sem se queixar porque já nem mesmo se sabe queixar.
