Álvaro de Campos
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

Portugal
n. 15 Out 1890


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100 Poemas

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Não: Devagar (61)

Não: devagar. / Devagar, porque não sei / Onde quero ir. / Há entre mim e os meus passos / Uma divergência instintiva. / Há entre quem sou e estou / Uma diferença de verbo / Que corresponde à ...

Dactilografia (62)

Traço, sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, / Firmo o projeto, aqui isolado, / Remoto até de quem eu sou. / / Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, / O tique-taque estalado das ...

Pecado Original (63)

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? / Será essa, se alguém a escrever, / A verdadeira história da humanidade. / / O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mund...
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A Frescura (64)

Ah a frescura na face de não cumprir um dever! / Faltar é positivamente estar no campo! / Que refúgio o não se poder ter confiança em nós! / Respiro melhor agora que passaram as horas dos encon...

A Angústia Insuportável de Gente (65)

Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo, / A banalidade devorante das caras de toda a gente! / Ah, a angústia insuportável de gente! / O cansaço inconvertível de ver e ouvir! / / ...

Ode Marcial (66)

Inúmero rio sem água — só gente e coisa, / Pavorosamente sem água!/ / Soam tambores longínquos no meu ouvido / E eu não sei se vejo o rio se ouço os tambores, / Como se não pudesse ouvir e...
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A Praça (67)

A praça da Figueira de manhã, / Quando o dia é de sol (como acontece / Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece, / Embora seja uma memória vã. / / Há tanta coisa mais interessante / Que aquele l...

Magnificat (68)

Quando é que passará esta noite interna, o universo, / E eu, a minha alma, terei o meu dia? / Quando é que despertarei de estar acordado? / Não sei. O sol brilha alto, / Impossível de fitar. / A...

Psiquetipia (69)

Símbolos. Tudo símbolos / Se calhar, tudo é símbolos... / Serás tu um símbolo também? / / Olho, desterrado de ti, as tuas mãos brancas / Postas, com boas maneiras inglesas, sobre a toalha da ...

Barrow-on-Furness (70)

I / / Sou vil, sou reles, como toda a gente / Não tenho ideais, mas não os tem ninguém. / Quem diz que os tem é como eu, mas mente. / Quem diz que busca é porque não os tem. / / É com a imagin...
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