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Fernando Guimarães

Portugal
n. 3 Fev 1928
Poeta/Ensaísta/Tradutor

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Mater Dolorosa

Sozinha, olho para o teu corpo e sei como é dentro de mim que ele
    existe;
desde que nasceste compreendi que podiam apenas os meus braços
    acolher-te. Fico de novo presa
a este sofrimento. Sentia como chegava a sombra e com ela o que
    seria apenas
o teu espírito, perdido como as primeiras imagens que se
    desprendem agora
nesta manhã tranquila. Há-de a sua recordação ser talvez a mesma
que vinha com os sonhos ainda suspensos pelas mãos que se
    tomam
mais leves, iniciais. Poderia descer para mim este sangue; ele
    pertencia-me
como se a luz viesse apenas recolhê-lo. O resto era o que se não
    separava
da noite, dessas vestes que ficam caídas sobre o teu corpo
como se fossem a piedade; era tão pouco o que recebias. Ajudo-te
com o meu silêncio. Julgo que talvez nele chegue um pouco
    de calor
a que sozinho te poderias acolher. Assim repousas junto de mim
e principio a olhar-te. Que idade era a tua quando se uniram
as mãos? Espero há muito as palavras que traziam consigo
uma recordação que não podia existir na tua voz apagada;
    esqueço-a para que seja
nossa como um segredo. Agora encontramo-nos e já nada nos
    pertence. Estás
ferido; sei que são mais altas as pétalas no teu rosto. Por isso cuido
    delas.

Fernando Guimarães, in 'Antologia Poética'




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